08/11/2012

Postagem para o trabalho: Sociedades Pré-colombianas

Música na cultura medieval



Poucas vezes o Homem teve a sua existência tão marcada pela espiritualidade quanto na Idade Média, e poucas vezes foi tão feliz ao tentar imprimir na arte os sinais do invisível. Para os historiadores, não é tarefa fácil tentar determinar o período de início e fim da Idade Média, mas as propostas mais aceitas situam essa era da História entre a queda da Civilização Romana no século V, e o século XV, do Renascimento Humanista. Se aceitarmos essa hipótese, poderíamos dizer que a música medieval, em tese, acompanha essa cronologia e que foi produzida por praticamente mil anos. Assim, ela nasceria com as primeiras manifestações artísticas de uma nova cultura, fundamentada na síntese das sociedades romana e germânica, ambas articuladas pela Igreja.
A crise dessa sociedade marcaria também o declínio da música medieval. Comparável aos documentos históricos medievais em geral, o corpo de peças musicais do período aumenta à medida que se aproxima o seu fim. Tal fato relaciona-se principalmente ao desen-volvimento dos sistemas de notação musical (portanto é uma questão de registro, não devendo se confundir com um retrato da intensidade da prática musical vigente).
O surgimento e desenvolvimento da polifonia escrita e das primeiras notações musicais no Ocidente deram-se na Idade Média. Freqüentemente, o caráter litúrgico ou paralitúrgico e festivo ligam a música aos ritos religiosos (a exemplo do cantochão e do calendário gregoriano), ou àqueles de reminiscência pagã (como as festas da chegada da Primavera).
É também nessa era que o amor profano se expressa em todo seu refinamento na arte dos trovadores e que a monofonia atinge a maturidade no Ocidente.
O período da música medieval é marcado pela estrutura modal praticada nas himnodias e salmodias, no canto gregoriano, nos organuns polifônicos, nas composições polifônicas da Escola de Notre-Dame, na Ars Antiqua e Ars Nova e ainda na música dos trovadores e troveiros.


Música Modal

A música modal se caracteriza pela importância dada às combinações entre as notas e a seus resultados sonoros particulares. De acordo com a função e o texto cantado, o compositor usa um modo escalar diferente. O fundamento da música modal é a composição melódica, seja em uma monodia (uma só melodia) ou em uma polifonia (mais de uma melodia, simultâneas).

Himnodias e Salmodias
A música erudita no ocidente começa com a proliferação das comunidades cristãs, entre os séculos I e VI. Suas fontes são a música judaica (os Salmos) e a música helênica sobrevivente na antiga Roma. As principais formas musicais são as salmodias, cantos de Salmos ou parte de Salmos da Bíblia, e himnodias, cantos realizados sobre textos novos, cantados numa única linha melódica, sem acompanhamento. A música não dispõe, então, de uma notação precisa. São utilizados signos fonéticos acompanhados de neumas, que indicam a movimentação melódica.

Monodia Gregoriana
A rápida expansão do cristianismo exige um maior rigor do Vaticano, que unifica a prática litúrgica romana no século VI. O papa Gregório I (São Gregório, o Magno) institucionaliza o canto gregoriano, que se torna modelo para a Europa católica. A notação musical sofre transformações, e os neumas são substituídos pelo sistema de notação com linhas. O mais conhecido é o de Guido d'Arezzo (995? 1050?). No século XI, ele designa as notas musicais como são conhecidas atualmente: ut (mais tarde chamada ), ré, mi, fá, sol, lá, si.


Música polifônica

Os sistemas de notação impulsionam a música polifônica, já em prática na época como a música enchiriades, descrita em tratado musical do século IX, que introduz o canto paralelo em quintas (dó-sol), quartas (dó-fá) e oitavas (dó-dó). É designado organum paralelo e no século XII cede espaço ao organum polifônico, no qual as vozes não são mais paralelas e sim independentes umas das outras.

Escola de Notre-Dame
A prática polifônica dá um salto com a música desenvolvida por compositores que atuam junto à Catedral de Notre-Dame. Eles dispõem de uma notação musical evoluída, em que não só as notas vêm grafadas, mas também os ritmos a duração em que cada nota deve soar. Mestre Leonin e Perotin, o Grande, são os dois principais compositores dessa escola, entre 1180 e 1230. Ambos, em seu modo de composição rítmica, além da elaboração de vozes novas sobre organuns dados, se abrem para composições autônomas. Abandonam o fluxo rítmico do texto religioso, obedecido no canto gregoriano, em troca de divisões racionais, criando a base para escolas futuras.

Ars Antiqua
Desenvolve-se entre 1240 e 1325, e suas formas musicais perduram até o fim da Idade Média: o conductus, o moteto, o hoqueto e o rondeau. O moteto é composto a partir de textos gregorianos que recebem um segundo texto, independente e silábico, cada vogal corresponde a uma nota, seja esta repetição ou não da antecedente. Essa necessidade de cantar cada vogal num novo som impulsiona a notação rítmica. Os motetos que mais se destacam são realizados com textos profanos sobre organuns católicos.

Ars Nova
De 1320 a 1380 impera a Ars Nova, denominação de um tratado musical do compositor Philippe de Vitry. O organum e o conductos desaparecem, e o moteto trata de amor, política e questões sociais. Variados recursos técnicos são utilizados para dar uniformidade às diversas vozes da polifonia: as linhas melódicas são comprimidas ou ampliadas e muitas vezes sofrem um processo de inversão (sendo lidas de trás para diante).
Guillaume de Machaut é o grande mestre desse período. Utiliza, com precisão, recursos como os baixos contínuos e a isoritmia – relação de proporcionalidade entre todas as linhas melódicas da polifonia, possibilitando que as vozes se desenvolvam sobre uma única base rítmica.

Música Profana
A atividade de compositores profanos, como os minnesangers e os meistersangers germânicos e os trovadores e troveiros franceses, é intensa entre os séculos XII e XIII. Os trovadores da Provença, ao sul da França, e os troveiros, ao norte, exercem forte influência na música e poesia medievais da Europa. Suas músicas de cunho popular, em dialetos franceses, enfatizavam aforismos políticos (como no compositor-poeta Marcabru), canções de amor (Arnaud Daniel, Jofre Rudel e Bernard de Ventadour), albas, canções de cruzadas, lamentações, duelos poético-musicais e baladas. As bases para suas melodias são os modos gregorianos, porém de ritmo marcado e dançante, com traços da música de origem moçárabe do mediterrâneo.
Adam de la Halle (1237-1287) troveiro francês, menestrel da corte de Roberto II de Arras, a quem acompanha em viagens a Nápoles. Trata seus poemas em composições musicais polifônicas, como os 16 rondós a três vozes e 18 jeu partis (jogos repartidos), em que se destacam o Jogo de Robin e Marion e o Jogo da folha, que podem ser classificados como as primeiras operetas francesas.


Instrumentos da Idade Média

Flauta Reta
As flautas retas englobam as flautas doces (flauta de oito furos, um deles na parte posterior destinado ao polegar) e as flautas de seis furos com agudos feitos através de harmônicos, já que não possuem o furo posterior. É classificado na Idade Média como instrumento de som suave, baixo, diferenciado-se dos instrumentos altos, como as bombardas.

Flauta Transversal
Presente em Bizâncio pelo menos desde o século XI, é pela primeira vez representada no manuscrito d’Herrade de Landsberg. Os estudiosos dos instrumentos do período estão de acordo em afirmar que a flauta transversal, bem como as flautas retas, tinham formato cilíndrico

Cornamusa
Instrumento de sopro que consiste de um chalumeau melódico dotado de palheta dupla e inserido em um reservatório de pele hermético (odre ou saco). O ar entra no odre através de um tubo superior, com uma válvula para impedir o seu retorno. Na Idade Média este instrumento podia ou não ter um bordão

Viela de Arco
Os instrumentos de cordas friccionadas da Idade Média, chamados Vièle, Fiddle, Giga e Lira, começaram a ser utilizados no século X, quando o arco surge na Europa (introduzido provavelmente pelos árabes). A Viela de arco pode ter formas bastante diversas e apresenta normalmente de três a cinco cordas. Pode ser tocada apoiada no ombro ou no joelho.

Viela de Roda ou Symphonia
É uma espécie de Viela em que o arco é substituído por uma roda, que fricciona as cordas sob a ação de uma manivela. As cordas são encurtadas não diretamente pelos dedos, mas através de um teclado.

Alaúde
O Alaúde, na forma que a Renascença tornou famosa, só foi introduzido na Europa no século XII, pelos mouros, com seu nome árabe (Al’ud, que se tornou Laud na Espanha, depois Luth na França). No fim do século XIV, adquiriu aspecto característico com caixa piriforme composta de lados de sicônomoro e o cravelhal recurvado para trás.

Harpa
As harpas são reconhecidas por sua forma aproximadamente triangular e pelas cordas de comprimentos desiguais estendidas num plano perpendicular ao corpo sonoro. As cordas são presas por cravelhas, que podem variar de sete a vinte e cinco. A pequena Harpa portátil veio sem dúvida da Irlanda, com a chegada dos monges irlandeses (a Harpa é o emblema heráldico deste país).

Percussão
Antes do século XII, praticamente não existiam, a exceção dos jogos de sinos (Cymbala) empregados nos mosteiros. Só nos séculos XII e XIII aparecem na Europa provenientes provavelmente do Oriente, os tambores de dois couros, o pequeno tambor em armação, que por vezes era dotado de soalhas (pandeiro), címbalos de dedos, etc.

Flauta e Tambor
Flauta de três furos tocada com uma das mãos enquanto a outra toca o tambor que é sustentado no ombro ou debaixo do braço pelo mesmo executante. Animava todas as danças e festividades e o seu auge foi entre os séculos XV e XVI. Este instrumento é até hoje presente em algumas tradições no sul da França e no País Basco. Taborin é o nome dado ao executante.

Flauta Dupla
Os instrumentos de sopro duplos são conhecidos desde a Antigüidade. A flauta dupla foi um instrumento bastante utilizado e desapareceria somente no século XVI.

Rabeca
Instrumento de cordas friccionadas com caixa monóxila, isto é, escavada em uma só peça de madeira. As formas variavam entre as ovais, elípticas ou retangulares. De proporções menores do que a viela de arco tem um som agudo e penetrante.

Saltério
Aparece no século XII numa escultura da catedral de Santiago de Compostela. Neste instrumento as cordas são estendidas em todo o seu comprimento acima da caixa de ressonância, ao contrário do princípio da harpa. É tocado pinçando-se as cordas com os dedos ou com plectro.

Organetto ou Portativo
Bizâncio foi o primeiro centro de construção de órgãos da Idade Média. O Organetto é o antecessor da Gaita de Fole escocesa. Também chamado de Portativo, porque podia ser carregado pelo executante.


Canto Gregoriano

A unificação da música litúrgica concebida por São Gregório tornou-se conhecida como Canto Gregoriano. Embora sucessivas pesquisas tenham alterado pouco à pouco a interpretação dos neumas (meios de notação musical e avaliação rítmica usados do século IX ao XII), há áreas em que as diferenças entre os investigadores se mantêm até os nossos dias.
O processo de unificação, e sobretudo, de implantação, foi progressivo e lento, dando lugar a diversas exceções em que foram reconhecidas liturgias não gregorianas. É o caso do Canto Visigótico, que passou a ser conhecido por Canto Moçárabe; termo anacrônico, anterior à invasão da península espanhola pelos árabes que se conservou até 1071, quando foi abolido por Gregório VII. Nos fins do século XI, esta modalidade só era praticada em poucas Igrejas, mas foi recuperado pelo Cardeal Cisneros, que fundou a capela moçárabe da Catedral de Toledo (Espanha) e editou o Missale e o Breviarium, cantos moçárabes em 1500 e 1502, respectivamente.
Ao regulamentar o canto litúrgico cristão, mantém-se o princípio da homofonia, ao qual se acrescenta a ausência de acompanhamento instru-mental. É destas características que vem o nome de Canto Chão, (do latim, Cantus Planus) utilizado pela primeira vez como sinônimo de canto gregoriano por Jerônimo de Moravia, por volta de 1250. Porém, o termo não é muito adequado para denominar o canto religioso dos séculos XVII e XVIII.
O sistema musical do Canto Gregoriano baseia-se no sistema chamado Modal, embora tenha sofrido adaptações sob a forma estabelecida pelos gregos. A primeira diferença é a do sentido, descendente para os gregos e ascendentes no gregoriano. Nas duas formas, coincidem no número, oito, em sua origem. Nestes casos, os ímpares se conhecem como autênticos e os pares como Plagales, por derivarem dos primeiros. Juntaram-se, no século XVI, os modos maiores e menores da música posterior, bem como os respectivos plagales. Assim se chegou aos doze modos, chamados: dórico, hipodórico, frígio, hipofrígio, lídio, hipolídio, mixolídio, hipomixolídio, jónico, hipojónico, eólico e hipoeólico. O fato de ter utilizado, para os oito primeiros, as denominações gregas foi a causa de que se generalizara a idéia da sua correspondência com os modos gregos.
Mantinha-se a homofonia e o ritmo era baseado na pronúncia silábica. Introduziram-se as mudanças com as quais a nota podia corresponder a uma sílaba ou a um conjunto de sílabas, surgindo a vocalização. Foram-se acumulando este e outros "desvios" com o decorrer dos séculos até ao Motu Proprio do Papa Pio X, no princípio deste século que implicou uma revisão e reconsideração de todo o corpo gregoriano, libertando-o de todas as "impurezas" acumuladas pelo tempo.
Por volta do século IX surgiu a Pauta Musical. O monge italiano Guido d'Arezzo (995 - 1050), sugeriu o uso de uma pauta de quatro linhas. O sistema é usado até hoje no canto gregoriano. A utilização do sistema silábico de dar às notas deve-se também ao monge Guido d'Arezzo e encontra-se num hino ao padroeiro dos músicos, São João Batista:


Ut queant laxit Ut queant laxit
Ressonare fibris
Mira gestorum Mira gestorum
Famuli tuorum
Solvi polluti Solvi polluti
Labii reatum
Sancte loannes


Para adequar a sílaba com a pronúncia, o Ut foi substituído pelo Do.

Carmina Burana


Carmina Burana é uma cantata cênica de poesias latinas medievais, pretendida para ser representada e dançada, posta sobre textos em baixo latim e baixo alemão, os quais foram extraídos de uma colocação de duzentas peças poéticas diversas compiladas pelo final do século XIII.
A palavra Carmina é o plural de Carmen (em português, Canção). O título inteiro significa literalmente: Canções dos Beurens; esta última palavra se refere ao fato de que os textos escolhidos para esta cantata secular foram descobertos em 1803 em um velho mosteiro beneditino da Baviera, em Benediktbeuren, no sudoeste da Alemanha.
Esta cantata é emoldurada por um símbolo da Antigüidade, o conceito da Roda da Fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente boa e má sorte. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança. E assim o apelo em coral à Deusa da Fortuna (O Fortuna, Velut Luna) tanto introduz quanto conclui a obra, que se divide em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com a Natureza despertando na primavera (Veris eta facies). Seu encontro com os dons da Natureza, culminando com o dom do vinho (In taberna); e seu encontro com o Amor (Amor volat undique).
A maioria dos mais de duzentos poemas sacros e seculares remonta ao século XIII e foi escrita por um grupo profano de errantes chamados Goliardos. Estes monges e menestréis desgarrados passavam o seu tempo deliciando-se com os prazeres da carne e os poemas que eles deixaram, faziam a crônica de suas obsessões por vezes ao ponto da obscenidade.
Este manuscrito abrange todos os gêneros, de versificação erudita à paródias de textos sacros, incluindo canções de amor e melodias irreverentes e até grosseiras. O fato de que o texto original destes Poemas de Benediktbeuren seja executada hoje em dia com tão extraordinário sucesso artístico, permite ao ouvinte discernir ainda melhor as intenções de Orff onde sua música não se expressa claramente.
Como uma antologia, Carmina Burana apresenta tudo o que o mundo cristão entre os séculos XI e XII fora capaz de exprimir. Aquela época não foi secionada como a nossa, nem inibida pelos nossos tabus. Assim, os autores anônimos dessas saturnálias escritas não temiam espalhar a chama incandescida pelo contato inesperado de uma melodia litúrgica e uma blasfêmia, mais precisamente um priapismo verbal, ou inversamente de uma nova melodia profana e uma profissão de fé.
Neste sentido, a coleção original restaura para nós, todo um cosmo onde o Bem não existe sem o Mal, o sacro sem o profano e a fé sem maldições e dúvidas: a oscilação onde se encontra a grandeza da Humanidade.
A dialética freudiana foi necessária para a redescoberta deste humanismo medieval até então considerada bárbara e cruel; uma vitalidade que permitiu ao homem sobreviver ao sofrimento da guerra, o mundo infestado pela praga em que ele era submetido à injustiça, à instabilidade, e mantido na ignorância de tudo que não fosse santificado pelo dogma. Sabemos que insultos dirigidos contra a autoridade, palavras ofensivas e blasfêmias que temperavam de maneira acre a expressão dessa energia vital eram herdadas do mundo antigo e chegaram ao começo do renascimento na tradição dos Carnavais e Triunfos que Lorenzo de Medicis e Rabelais ilustrariam, cada qual por sua vez.
Esta genealogia espiritual era tão familiar a Orff que ele concebeu Carmina Burana como apenas o primeiro elemento de uma trilogia intitulada Trionfi-Trittico Teatrale, que incluiria Catulli Carmina (1943) e Trionfi dell'Afrodite (1952), uma obra que revelou a significação do todo: só o Desejo e o Amor podem capacitar o Homem a viver, lutar e crer.


Frankfurt, junho de 1937

A primeira apresentação de Carmina Burana foi na Ópera de Frankfurt em Junho de 1937. Causou uma grande impressão sobre o público, e a aclamação mundial que recebeu a partir daí prova que não perdeu nada do seu efeito hipnótico.
A trilogia Carmina Burana é obra coral de exuberante alegria e fortes acentos eróticos; a obra, inicialmente destinada para representação como ópera, venceu, porém, nas salas de concerto. A música é deliberadamente anti-romântica. É uma música inteiramente original, quase sem harmonia, baseada só em elementar forma rítmica, acompanhada por orquestra inédita: principalmente instrumentos de percussão e vários pianos.
O manuscrito original inclui poucas melodias anotadas que Carl Orff levou em consideração, mas não citou diretamente, ampliando apenas sua atmosfera particular com instrumentos ancestrais que usou em seu Método, aqueles mais exigidos pela música contemporânea: uns poucos instrumentos de sopro, sem violinos, mas uma ampla família de percussão.
Não há contradição entre a obra do compositor e seu Método: ambos falam ao mesmo irredutível descendente dos homens das cavernas, que aparentemente estão tão pouco à vontade hoje em dia em seu universo de ar condicionado.

 Influências na cultura Pop

A música medieval  tem grande e marcante influência na cultura dos dias de hoje. Diversas bandas de rock se inspiram em seu conceito ou no canto para conseguir sucesso. Alguns exemplos:


Nightwish


 Shaman




Angra


Epica


 E muitas outras...

Não propriamente no som, mas na estética e cenário tem a famosa "Holy Diver". Confira e até a próxima postagem...

Dio - Holy diver


O oriente fantástico dos viajantes




Um dos mais populares  textos dofim da Idade Média foi um relato de viagem  ao Oriente  em que o personagem eera um cavaleiro inglês, Jean de Mandeville, morto em Liége em1372. Mas será que o autor realmente saiu da Europa algum dia ? Não se sabe ao certo.
Aos nossos olhos a narrativa de Jean de Mandeville é apenas um apanhadode invenções caluniosas que fazem referência a povos fabulosos: os cinocéfalos, homems com cabeça de cachorro que latem em vez de falar; homens sem cabeça cujo rosto aparece no peito; pessoas que se alimentam do cheiro de frutas... entre muitos outros. Os mais divertidos são sem dúvida os homens "cujo lábio inferior é tão grande que, quando querem dormir ao sol, cobrem o rosto com esse lábio inferior".
Jean de Mandeville não foi o inventor desses seres monstruosos. Se seus relatos tiveram tamanho sucesso, foi justamente porque confirmavam crenças sólidas do Ocidente sobre o Extremo Oriente, e em particular sobre a India, terra de todas as maravilhas.

No século V antes da era cristã, o historiador Heródoto e o médico Ctésias de Cnido foram os primeiros a mencionar formigas caçadoras de ouro, escorpiões alados, homens com pernas de aranha ou com orelhas em que se embrulhavam para dormir. Eram interpretações de figuras da mitologia hindu. Relatos assim apareceram mais tarde, no século I d.C., por meio de Plínio, o Moço, orador e politico cuja obra, História Natural, foi uma fonte utilizada por intelectuais medievais como Isidoro de Sevilha, no século VII e Raban Maur, no século IX - além de sucessores que os copiavam. Nessas obras, encontram-se a nomenclatura "raça" monstruosas, humanas ou animais, criações herdadas dos gregos.
Nos últimos séculos da Idade Média, as raças monstruosas faziam parte da cultura dos letrados. Eram encontradas principalmente nos mapas inspirados nos modelos antigos, como o famoso mapa-mundi de Hereford, da virada do século XIII para o XIV:

 

Nele, a Índia e a Etiópia eram representadas  por homens sem boca ou sem cabeça, com longas orelhas, e ainda sátiros, faunos, unicórnios...
A palavra latina monstrum é aplicada a seres ou objetos que anunciam a vontade dos deuses. Etimologicamente, aproxima-se de ‘monstro, -as, -are’, que significa mostrar, indicar. Com esse sentido Isidoro a registra no terceiro capítulo do livro XI de seu livro de Etimologias. O monstro é a criatura que mostra e, assim como o portento e o prodígio, expõe um sinal ou aviso. É uma figura de advertência. Seu exagero, tamanho ou estranheza garantem um senso de urgência a sua interpretação. O monstro é um sinal divino que não deve ser ignorado. A vontade divina ou suas indicações são mais claras quando apresentadas em forma monstruosa.
Os pregadores e conselheiros medievais, recorriam aos monstros para representar as características humanas: os gigantes representavam o orgulho, os pigmeus simbolizavam a humildade, e os homens com cabeça de fera (cachorro por exemplo) alegorias da discórdia.



A) Chest le livre de toutes les keures de la Vile dâypre. Sec. XIV.
A Trindade está representada por uma personagem com pernas longas e peludas, tendo na mão uma adaga e na outra um objeto redondo que parece um pequeno escudo. Sobre um pescoço desmesurado, vai-se reunidas três cabeças sob uma mesma coroa. As faces se dispõem de forma que os dois olhos da figura são vistos de perfil e um frontal. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 65, fig. 53.

B) Bible du Musue Britannique Bibliographica. Londres, 1900, part VII, p.394.
Monge com cara de papagaio exercendo sua eloquência diante de um bispo com o rosto de macaco que o abençoa, enquanto que ao redor deles estãoo seres bizarros representando, talvez, suas ovelhas. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 141, fig. 117.

C) A figura está contida no manuscrito de Ypres intitulado"o livro de todas as coisas da vila de Ypres". Faz forte referência a  religiosidade da região. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 146, fig. 121.

D) Na figura vemos uma ave portando sua família dentro de um cesto pendurado nas costas e seguido por uma forma monstruosa constituída de elementos bizarros e fantásticos. Manuscrit n.103 de la Bibliotèque de Cambrai. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 75, fig. 69.


Sereia
A figura da sereia tanto pode se associar ao conceito da salvação e da redenção, como às forças maléficas do pecado. Há, por exemplo, duas categorias de representações das sereias: a sereia-peixe e a sereia-pássaro. A primeira, com a aparência física de um ser meio homem meio peixe, representavam divindades marítimas (resgatadas do folclore escandinavo). A sereia-pássaro, com a cabeça humana (com feições masculinas ou femininas) e corpo de pássaro, representava a alma condenada dos mortos; que, com seu canto sedutor, levava os navegantes ao naufrágio.
Dragão
O dragão é um animal fantástico que tem presença constante na cultura medieval. Porém, sua origem remonta à antiguidade de várias culturas. É possível que a "imagem" do dragão, uma serpente ou réptil alado e de proporções gigantescas, tenha sido idealizada a partir de fósseis de dinossauros.
Na Idade Média, principalmente por influência das citações bíblicas, o dragão foi associado a aspectos maléficos (como a serpente), sempre como um inimigo mortal e poderoso. Uma célebre representação é a de São Jorge, montado à cavalo, ferindo um dragão com sua lança; numa clara alusão da vitória do bem (cristianismo) sobre o mal (o dragão pagão). Ainda, o Dragão figura freqüentemente na heráldica medieval.
Grifo
O grifo, animal que possui cabeça e asas de águia e corpo de leão, também é encontrado em brasões. Sua conotação é (geralmente) positiva; pois representa a águia (rainha das aves) e o leão (rei dos animais terrestres). Há uma lenda de que os grifos entraram em combate com os cavalos que tentaram roubar o seu ouro. Assim, há uma grande rivalidade entre grifos e cavalos; fato que levou cavaleiros medievais a utilizar escudos com a imagem de grifos, para desencorajar os cavalos dos inimigos. Há ainda o hipogrifo, que seria o resultado do cruzamento de um grifo com uma égua.
Basilisco
O basilisco é descrito como uma serpente com cabeça de galo que nasce quando um ovo de galinha é chocado por um sapo. Em algumas representações, devido ao tamanho e por estar dotado de patas, é confundido com dragões. O basilisco seria capaz de matar apenas fixando o seu olhar sobre a presa. Segundo as lendas, é responsável por conduzir a alma desencarnada dos condenados ao inferno.
Harpia
A harpia, que na mitologia grega foi enviada para roubar o alimento do rei cego conhecido por Fineu, é mais uma representação com corpo de ave e cabeça e tórax humano (tanto masculino como feminino) e está associada (geralmente) à luxúria e a entrega do homem aos prazeres sexuais.
Centauro
Os centauros são mais uma representação oriunda da mitologia grega. Com o corpo de eqüino e tórax, braços e cabeça humana, representa a brutalidade. Na iconografia cristã, também está associado à lascívia.
Unicórnio
O unicórnio é uma das representações que se atribui significados. Oriundo também da mitologia grega, na Idade Média, estava associado à pureza da virgindade; portanto, é comum encontrá-lo retratado junto a uma dama. Por outro lado, na heráldica, pode representar a nobreza e a virilidade. Ainda, há a lenda de que seu chifre é capaz de neutralizar qualquer veneno e curar todas as doenças.
Leucrota
A leucrota é do tamanho de um eqüino com o traseiro de um veado e peito e patas de um leão, cabeça de cavalo e a mandíbula aberta até altura das as orelhas, com um osso maxilar ao invés dos dentes. Uma de suas habilidades é produzir sons semelhantes à voz humana.
Porco
O porco está associado à gula ou luxúria. Santo Isidoro de Sevilha atestava que "os porcos são imundos porque se revolvem e sujam na terra à procura de alimentos". Na obra Hortus Sanitatis (1485), Jehann von Cube reafirma a associação do porco à luxúria, referindo também à precocidade sexual do animal, que aos oito meses já é capaz de copular.
Aves
De uma forma geral, as aves recebem atribuições positivas; já que as asas simbolizam a capacidade de voar e alcançar o Reino Divino no céu. Também é comum encontrá-las picando as próprias patas, numa alusão ao ato de "despregar-se" da sua natureza terrena. A pomba e a águia são as aves mais comuns nestes contextos.
Leões
Leões estão associados à força e nobreza. É comum encontrá-los nas entradas principais de templos religiosos exercendo a função de guardiões do templo, como se alertassem o observador que aquele local é sagrado e restrito. Na bíblia, pode assumir um caráter positivo (como o leão de Judá, os leões do trono de Salomão ou o leão de São Marcos), como uma imagem negativa, como os leões que Daniel tem de enfrentar.
Touro
O touro, que está presente em diversas culturas da Antiguidade, sempre recebeu atributos positivos por sua força e coragem. Entretanto, durante a solidificação do cristianismo medieval, devido aos chifres e patas, recebeu uma conotação demoníaca.


Se quiserem saber mais a respeito podem acessar o site:


O site é em inglês, mas fácil de traduzir através das ferramentas de tradução do google e similares.

12/08/2012

O mundo medieval: a importância dos contos e das lendas na vida medieval



Um elemento essencial da vida medieval foi a pregação. 

Nessa época, pregar não era monologar em termos escolhidos perante um auditório silencioso e convencido. Pregava-se um pouco por todo lado, não apenas nas igrejas, mas também nos mercados, nos campos de feira, no cruzamento das estradas; e de modo muito vivo, cheio de calor e de ímpeto. O pregador dirigia-se ao auditório, respondia às suas perguntas, admitia mesmo as suas contradições, os seus rumores, as suas invectivas. Um sermão agia sobre a multidão, podia desencadear imediatamente uma cruzada, propagar uma heresia, preparar revoltas. 

O papel didático dos clérigos era então imenso. Eram eles que ensinavam aos fiéis a sua história e as suas lendas, a sua ciência e a sua fé; que comunicavam os grandes acontecimentos, transmitia de uma ponta à outra da Europa a notícia da tomada de Jerusalém, ou a da perda de Saint-Jean d’Acre; que aconselhavam uns e guiavam outros, mesmo nos seus negócios profanos. Nos nossos dias são prejudicados nos seus estudos e na vida aqueles que não têm memória visual, a qual no entanto é mais rara, de exercício mais automático e menos racional que a memória auditiva. Na Idade Média a pessoa instruía-se escutando, e a palavra era de ouro. Se a expressão “cultura latente” teve sentido alguma vez, foi na Idade Média. Toda a gente tem então um conhecimento pelo menos corrente do latim falado e articula o cantochão, que supõe senão a ciência, pelo menos o uso da acentuação. Toda a gente possui uma cultura mitológica e lendária. 
Acontece que as fábulas e os contos dizem mais sobre a história da humanidade e sobre a sua natureza do que uma boa parte das ciências inscritas nos nossos dias nos programas oficiais. Nos romances de mester publicados por Thomas Deloney, vemos os tecelões citar nas suas canções Ulisses e Penélope, Ariana e Teseu. Os vitrais têm sido chamados “a Bíblia dos iletrados”, porque neles os mais ignorantes decifravam sem esforço histórias que lhes eram familiares. 

Realizavam assim, com toda a simplicidade, esse trabalho de interpretação que tanta canseira dá aos arqueólogos na época atual.


(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


04/07/2012

O mundo medieval: "O incrível exército de Brancaleone"





           O filme “O Incrível Exército de Brancaleone” apresenta o sistema da sociedade feudal da Idade Média. Mostra as estruturas políticas, religiosas, culturais e mentais da época em que se passa. Brancaleone, um cavaleiro que apesar do título vive em uma cabana pobre com seu insubordinado cavalo Aquilante deixa bem clara a hierarquia medieval onde mais importante do que a situação financeira era a classe social.
……………..Outro ponto em que isso fica bem claro é quando quatro amigos maltrapilhos roubam um pergaminho que dá ao seu possuidor o direito de tomar o feudo de Aurocastro. Mesmo sendo os novos donos do papel eles não podem tomar posse da região porque são meros servos. Para isso eles recorrem ao falido cavaleiro em busca de um acordo pelas terras.
……………..A atividade comercial é representada por Habacuc, um velho judeu que sabe ler e viaja carregando seu imenso baú cheio de mercadorias. Bom negociador e esperto ele logo se interessa pelo pergaminho e apresenta os maltrapilhos à Brancalone visando obter algum lucro da situação.
……………..Como na Idade Média a única maneira de tornar-se nobre ou adquirir uma herança era se casar com a filha de um senhor feudal, Brancaleone vai participar de um torneio de cavalaria cujo premio era o saudoso e desejado casamento. Como era pobre e não possuía equipamentos de qualidade, que custavam caro, Brancaleone acaba perdendo e é obrigado a aceitar a proposta de dominar o feudo de Aurocastro e dividir suas riquezas com os donos do pergaminho. Os cavaleiros nessa época obedeciam às leis de cavalaria, e uma delas era que se dois cavaleiros se cruzassem num mesmo caminho deveriam lutar para que o vencedor seguisse viagem. Foi o que aconteceu com Brancaleone ao encontrar um cavaleiro bizantino. Os dois iniciam uma luta, mas o filme apresenta o bizantino como trapaceiro que quer levar vantagem em tudo. Ele sempre pede tréguas na luta quando está e desvantagem, entre outras coisas. Essa visão por parte dos italianos se deve ao ressentimento deixado pela parte do império de Roma que ruíra (Ocidental), deixada de lado pela outra metade (Oriental).
……………..Outra característica feudal predominante na época é o Teocentrismo e as Cruzadas. Quando Brancaleone e seus companheiros seguem viagem encontram um feudo e o invadem. Logo descobrem que o local estava infestado pela peste e pensam que vão morrer. Desesperados eles encontram um grande grupo de fiéis em busca da Terra Prometida que alega que quem luta em defesa da fé é livrado de todo o mal, recebendo salvação e libertação do sofrimento material. Brancaleone e seus companheiros juntam-se a eles a fim de lutar contra os infiéis. Na época as Cruzadas eram muito disseminadas. Os cavaleiros lutavam em nome de Deus em busca de riquezas, prestígio e também garantia de salvação eterna.
……………..Outro trecho do filme em que as leis de cavalaria são abordadas é quando Brancaleone e sua tropa encontram Matelda e seu tutor. Á beira da morte o velho faz com que ele prometa cuidar e levar a jovem até seu prometido preservando sua honra. Mesmo apaixonado por ela Brancaleone é obrigado a rejeitá-la porque é dever dos cavaleiros protegerem donzelas em perigo e mantê-las puras.
Mais uma vez o bizantino é visto como traidor afinal ele abusa da moça e não conta a verdade mesmo após Brancaleone levar a culpa e ser condenado à morte. Como os homens só se casavam com mulheres virgens por conta da religião católica, Matelda é levada para um convento onde deve pagar pelo pecado cometido.
……………..Em outro ponto o ressentimento italiano fica ainda mais claro. O cavaleiro bizantino se oferece como falso refém para que Brancaleone peça um resgate a sua família e eles dividam a riqueza. Além do fato do homem enganar a própria família em troca de um resgate os seus familiares bizantinos são vistos como pessoas feias, más e traiçoeiras. Mesmo com o aviso de captura o pai do cavaleiro não paga o resgate, o que mostra falta de compaixão e solidariedade provavelmente o que os romanos do ocidente sentiram dos vizinhos orientais na época de crise que levou os à ruína.
……………..Ao chegarem a Aurocastro Brancaleone e sua tropa são muito bem recebidos como novos donos da terra. Isso acontece porque o senhor feudal tinha a obrigação de defender o povo dos inimigos durante as invasões, muito freqüentes no sistema feudal. Uma vez por ano a população de Aurocastro era “visitada” pelos Sarracenos que levavam tudo de valor. As pilhagens eram muito comuns na época, daí a necessidade de um bom exército em cada feudo.



……………..Os homens acabam sendo capturados e só são salvos pela fé, ou melhor, pela influencia que ela exercia sobre as pessoas na Idade Média. O grupo que lutava em nome de Deus aparece e pede que o verdadeiro dono do feudo, que reaparece, não se vingue dos homens que lhe roubaram alegando que eles haviam prometido lutar nas Cruzadas e nenhum homem pode tirar a vida daquele que promete lutar pela fé.
……………..Dessa forma Brancaleone e seu exército são salvos e resolvem seguir viagem com o grupo tendo como destino a Terra Santa. Já que haviam perdido Aurocastro só lhes restavam os frutos da luta pela fé: glória e salvação. Tanto o primeiro filme quanto a sua continuação são sátiras muito inteligentes sobre aquele período que com certeza podem lhe ajudar a questionar um pouco mais os seus conhecimentos sobre o tema até aqui.


O incrível exército de Brancaleone


    
L´armata Brancaleone
O Incrível Exército de Brancaleone 
Armata brancaleone
O 'Exército' de Brancaleone
 Itália
1966 •  cor •  120 min 
Produção
DireçãoMario Monicelli
RoteiroAge e Scarpelli
Mario Monicelli
Elenco originalVittorio Gassman
Gian Maria Volonté
Catherine Spaak
Enrico Maria Salerno
Maria Grazia Buccella
Barbara Steele
Folco Lulli
Génerocomédia
Idioma originalitaliano
 
Brancaleone e as Cruzadas



03/07/2012

O mundo medieval: documentário : "Resgatando a lâmina"




Na postagem anterior conversamos um pouco sobre a espada. A fabricação até os dias de hoje e sua importância cultural. Agora para explorar um pouco mais isso convido você a assistir o documentário: "Resgatando a lâmina", que vai tratar da importância da espada para a sociedade européia, inclusive falando  de certos aspectos do combate com espadas exclusivos da Europa. Bom programa e até a próxima postagem !











02/07/2012

O mundo medieval: A espada




Olá pessoal ! 
Férias ! Momento de curtir um descanso mais do que merecido. Mas nem por isso podemos perder a oportunidade de aprender coisas interessantes em relação a História. Seguindo nossa ideia de ter aqui no blog um espaço a mais para conhecer detalhes da História, personagens e mentalidades vamos seguir em frente, agora conhecendo um pouco mais a respeito de uma ferramenta simbolo de poder e com um enorme destaque ao longo do período medieval: a espada. Em sala de aula fizemos um exercício com uma que eu professor adquiri a algum tempo e ficamos de falar mais a respeito não só daquele modelo mas da arma em si...
Vamos lá então !

Antes de surgirem as armas de fogo, a espada era a principal arma utilizada no combate corpo a corpo. Ela está associada a figuras legendárias como os cavaleiros ingleses, gladiadores romanos, ninjas japoneses ou guerreiros vikings. 



As espadas são trabalhos de arte admiráveis feitos pelas mãos experientes de cuteleiros. Inicialmente, o termo cutelaria se referia apenas a facas, mas ao longo do tempo, a atividade foi ampliada e, hoje, podemos incluir a produção de espadas, machados, tesouras, navalhas e talheres.


Basicamente, uma espada é uma peça de metal afiada que normalmente possui entre 61 e 122 cm de comprimento com um cabo (punho) em uma das extremidades. A outra extremidade normalmente termina em uma ponta. Neste artigo, você aprenderá um pouco sobre a história das espadas e saberá como elas são fabricadas, incluindo os passos necessários para sua criação:
  • escolha de um desenho
  • seleção dos materiais
  • modelamento da lâmina
  • normalização e recozimento do aço
  • adição do gume
  • revenimento do aço
  • adição da guarda, punho e pomo
Vamos abordar os pontos básicos da fabricação moderna de espadas. Existem muitos outros métodos que foram utilizados na história e muitas diferenças entre as espadas feitas por cuteleiros de diferentes épocas e regiões. O desenvolvimento de uma espada japonesa varia significativamente em relação ao de uma espada européia. 

Vamos iniciar então dando uma olhada nas partes de uma espada.




Existem quatro partes básicas:
  • lâmina - a extensão de aço que forma a espada. Uma lâmina típica possui seis áreas:
    • gume - parte afiada da lâmina. Uma espada pode possuir um ou dois gumes. Por exemplo, uma katana japonesa possui um único gume mas uma claymore escocesa é afiada em ambos os gumes.
    • ponta - extremidade da espada mais distante do punho. A maioria das espadas se afinam até uma ponta na extremidade, mas algumas linhas de lâminas são retas até a extremidade. Algumas espadas, como o sabre da Guerra Civil Norte-americana são curvadas em sua extensão.
    • falso gume - parte da lâmina oposta ao gume. Uma espada de dois gumes não possui falso gume.
    • faces - faces da lâmina.
    • vinco - freqüentemente chamado de baixo-relevo de sangue ou calha, o vinco é um baixo-relevo estreito que corre pela maior parte da extensão de muitas espadas. A maioria das pessoas acredita que exista o vinco para permitir à lâmina remover facilmente o sangue que escapa pelo canal, reduzindo, assim, a sucção. Mas, na realidade, o vinco serve para diminuir o peso da lâmina sem diminuir a resistência. O uso de um vinco permite ao cuteleiro utilizar menos material para modelar a lâmina, tornando-a mais leve sem sacrificar demais a integridade estrutural. Isto é similar ao uso de uma viga em "I" ao construir um arranha-céu.
    • ricasso - encontrado em algumas espadas, o ricasso é a parte sem fio da lâmina, próxima à guarda. Era normalmente usada em espadas mais pesadas para permitir segurá-las com a outra mão, se necessário.
    • espiga - porção da lâmina coberta pelo punho. Uma espiga inteiriça é da mesma largura que o resto da lâmina e se estende para além do punho através do pomo. Uma espiga parcial não se estende totalmente pelo punho e normalmente não possui mais que a metade da largura da lâmina. O comprimento da espiga e a largura, especialmente onde fica mais estreita antes de entrar no pomo, varia de uma espada para outra. A espessura e largura de uma espiga dentro do punho determinará o manuseio da espada.
  • guarda - peça de metal que impede a espada do oponente deslizar até o punho e cortar a sua mão. A guarda em espadas japonesas impedia que as mãos deslizassem até a lâmina. Muitas guardas de espadas européias também protegiam as mãos em combate corpo-a-corpo contra um escudo. Além disso, a guarda cruzada em uma espada européia pode ajudar no controle de ponto e manipulação de uma lâmina. As guardas podem variar desde uma peça cruzada simples até uma cesta inteira que quase envolve a sua mão.
  • punho - sendo a empunhadura da espada, um punho é normalmente feito de couro, arame ou madeira. Ele é preso à espiga da lâmina para proporcionar uma forma confortável de empunhar uma espada.
  • pomo - a extremidade da espada onde está o punho. Os botões normalmente são maiores do que o punho e impedem que a espada escape da mão além de fornecer um pouco de contrapeso para a lâmina. Eles também podem ser usados como uma forma de fixar o punho à espiga e eram às vezes forjados na mesma extensão de aço que a lâmina.
As espadas podem variar desde estritamente utilitárias até totalmente cerimoniais. Em muitas espadas, a guarda, o punho e o pomo são muito ornados.




Parte da história




Espadas afiadas têm sido parte de nossa história desde os primeiros registros. De fato, algumas das ferramentas mais antigas utilizadas pelo homem primitivo foram pedras afiadas.



Foto cedida por Facas Don Fogg
Uma espada dos sonhos criada pelo mestre da cutelaria Don Fogg

Espadas e facas têm desempenhado um papel significativo em todas as grandes civilizações. Mesmo na sociedade moderna atual, as espadas são usadas em muitas cerimônias e acontecimentos militares ou estatais mais importantes. Pense sobre os comerciais do Corpo da Marinha dos EUA e como eles focam o sabre da Marinha, ou a cerimônia de cavalaria realizada pela Rainha da Inglaterra em que uma espada é usada para tocar os ombros do indivíduo que recebe o título de cavaleiro.

As espadas mais antigas eram feitas de cobre, um dos metais mais comuns disponíveis. As espadas de cobre eram muito moles e embotavam rapidamente. Mais tarde, começaram a se feitas de bronze. O bronze é uma liga de cobre e estanho. Uma liga é uma mistura de dois ou mais metais ou elementos básicos para formar um outro metal com determinadas propriedades específicas. No caso do bronze, a combinação de cobre e estanho criou um metal mais resistente e mais flexível do que o cobre, além de permanecer afiado mais tempo.
Uma espada melhor foi desenvolvida com o advento do ferro. O minério de ferro era facilmente encontrado por todo lugar na antigüidade. Ele contém ferro combinado com oxigênio. Para fazer ferro a partir do minério de ferro, é preciso eliminar o oxigênio para formar ferro puro. As instalações mais primitivas usadas para refinar o ferro a partir do minério de ferro é chamada de ferraria (em inglês).
Em uma ferraria, o carvão (em inglês) é queimado com minério de ferro e uma boa quantidade de oxigênio (fornecida por sanfonas ou foles). O carvão é essencialmente carbono puro. O carbono se combina com o oxigênio para formar dióxido de carbono e monóxido de carbono (liberando muito calor no processo). O carbono e monóxido de carbono se combinam com o oxigênio no minério de ferro e o levam embora, deixando uma massa porosa e esponjosa chamada de ferro-gusa. O ferro-gusa era então martelado para remover a maior parte das impurezas. O metal resultante era fácil de se trabalhar, mas as espadas de ferro não mantinham bem o fio e ainda eram moles demais.


Fabricação de espadas no Brasil

Segundo Laerte Ottaiano (especialista brasileiro em arte oriental antiga), o pioneiro na fabricação de espadas japonesas no Brasil foi o imigrante nipônico Yoshisuke Oura, que residiu em Suzano -  São Paulo - e iniciou suas atividades em 1936, vindo a falecer em 2000 (aos 90 anos). Suas espadas foram as primeiras produzidas comercialmente no país, mas o artesão atendia exclusivamente a colônia japonesa.
Entretanto, nenhuma espada produzida no Brasil foi tão falada quanto as do japonês Kunio Oda. Seu avô paterno foi quem o ensinou a arte de produzir lâminas e ele executou sua primeira espada em 1930, com apenas 18 anos.
Nascido em 1912, Kunio veio para o Brasil em 1957, para trabalhar como agricultor no interior de São Paulo, mas exerceu essa atividade durante poucos anos. Em 1966, estabeleceu-se na cidade de São Paulo, no tradicional bairro da Liberdade, reduto principal da colônia japonesa no Brasil. A partir de 1968 começou a preencher suas horas vagas produzindo espadas. Inicialmente atendia apenas a alguns membros da grande colônia japonesa. Gradualmente começou a atender também o público de nacionalidade brasileira.
Oda faleceu em 1992, aos 80 anos, e até poucas semanas antes de sua morte trabalhava diariamente em suas espadas. Alguns especialistas calculam que ele produziu, em seus 24 anos de atividade, cerca de 350 espadas. Atualmente, espadas de Oda novas, sem uso, são raríssimas.


O ferro se tornou o metal preferido para espadas e outras armas e ajudou a formar novos impérios. Armas e ferramentas tanto de ferro como de bronze tiveram um impacto incrível sobre o equilíbrio de poderes durante as eras de sua respectiva proeminência. De fato, esses períodos da história agora são conhecidos como a Idade do Aço e a Idade do Bronze.
Finalmente, o aço foi descoberto. Aço é uma liga de ferro (ferrita) e uma pequena quantidade de carbono (cementita), normalmente entre 0,2 e 1,5%. O aço era originalmente produzido usando um processo chamado decimentação. Pedaços de ferro eram colocados dentro de um recipiente feito com uma substância com conteúdo de carbono muito alto. O recipiente era colocado em uma fornalha e mantido a uma temperatura alta por um período de tempo que podia variar de horas a dias. Durante este tempo, ocorria amigração do carbono o que significa que o ferro absorvia uma parte do carbono do recipiente. A mistura resultante de ferro e carbono era o aço.

                

O aço possui algumas vantagens sobre o ferro e o bronze:
  • é muito duro
  • é flexível quando recebe um tratamento térmico adequado
  • pode se manter afiado por muito tempo
  • pode ser manuseado e modelado
  • é mais resistente à oxidação e corrosão do que o ferro



Representação de uma espada celta
Atualmente, quase todas as espadas fabricadas são feitas com algum tipo de liga de aço. Na maioria dos aços modernos, também existem alguns outros elementos. Você aprenderá mais sobre as várias ligas de aço depois. Mas primeiro, vamos falar sobre as ferramentas necessárias para se fazer uma espada.
Antes que um cuteleiro possa fazer uma espada, ele precisa ter o ambiente e ferramentas adequados. Uma oficina de cuteleiro, chamada de cutelaria, é muito parecida com uma oficina de ferreiro tradicional. Devido às emissões e à poeira criados no processo, a cutelaria precisa estar bem ventilada. Deve-se tomar cuidado com a colocação da forja, bigorna e outros equipamentos para assegurar que a distância que o cuteleiro tem de transportar o aço incandescente seja a mínima possível.
O equipamento básico utilizado pelo cuteleiro mudou muito pouco nos últimos séculos. Para a maioria dos ferreiros, a maior mudança veio depois que o forjamento é feito, utilizando ferramentas elétricas para desbastar e polir o aço. Veja a seguir as ferramentas.
  • Bigorna - sendo o símbolo do ferreiro, a bigorna é facilmente o equipamento de ferreiro mais conhecido e de mais fácil identificação. Uma bigorna padrão é dividida em diversas partes.
    • base - é a porção maior da bigorna e, normalmente, possui furos de montagem na parte inferior para fixar a bigorna em um local seguro.
    • plataforma - é onde a maior parte da modelagem do aço acontece. O topo da bigorna é temperado para ser muito duro (também deve ser liso). As extremidades são ligeiramente arredondadas para assegurar que não marquem ou danifiquem o aço.

    • bloco - pequena seção lisa entre a face e o chifre, utilizada para limagem de modo que o ferreiro não risque a face da bigorna.
    • chifre - extremidade frontal da bigorna que se afina bem abaixo do bloco até uma ponta arredondada (também chamado de bico). Usado para curvar e dobrar o aço.
    • furos corta-a-frio e de ponteira - recesso quadrado na plataforma da bigorna que contém algumas das ferramentas de modelagem descritas abaixo. O furo de ponteira é um furo redondo na plataforma que permite passar um malho, broca ou punção na bigorna. É usado para malhar e modelar furos no aço.
  • Martelos - o martelo é uma extensão do cuteleiro. Ele o utiliza para criar a forma básica da espada. Os martelos usados por cuteleiros e ferreiros, em geral, são ligeiramente diferentes do martelo que se encontra em uma loja de ferramentas. A principal diferença é que martelos de ferreiro são coroados, enquanto que a maioria dos martelos normais não são. Coroado significa que a extremidade da cabeça do martelo é ligeiramente arredondada em vez de reta. A coroa evita que o martelo faça endentações vivas no aço quando o ferreiro malha.
    Os martelos variam muito de tamanho e finalidade.
    • martelo bola, cruzado e reto - possui uma cabeça chata, coroada e uma forma arredondada (bola) ou em cunha (cruzada e reta) no outro lado. O martelo cruzado possui a cunha lateral enquanto o reto possui uma cunha alinhada com o martelo. Esse tipo de martelo é utilizado na maior parte do trabalho de modelagem.
    • marreta e pega simples - marretas tendem a ser grandes e pesadas, pesando até 9kg. São utilizadas quando o aço necessita de modelagem pesada e normalmente exigem a presença de uma segunda pessoa: uma pessoa mantém o aço sobre a bigorna enquanto a outra golpeia com a marreta. A marreta simples é uma versão menor da marreta e pode ser utilizada por uma única pessoa.
    • martelo de ajuste e achatador - ambos possuem grandes cabeças lisas. Como é de se esperar, a utilização principal do achatador é achatar o aço. O martelo de ajuste é utilizado para fazer quinas retas e extremidades lisas.
  • Tenazes - são ferramentas versáteis que nenhum ferreiro pode dispensar. Uma ferraria típica possui vários pares de tenazes que são utilizadas para segurar o aço enquanto ele é modelado sobre a bigorna. Elas também são utilizadas para colocar o aço na forja e recuperá-lo, bem como para dar o banho de resfriamento no aço.
  • Ferramentas de moldagem - com grande freqüência, o ferreiro precisa fazer determinadas coisas com o aço que seriam muito difíceis com um dos martelos e é nesse momento que ele pode escolher ferramentas mais especializadas.
    • corta-a-frios (bicos, vasos e machos de estampar) - são as ferramentas que se encaixam no furo corta-a-frio da bigorna. Um bico é uma peça arredondada que pode ser utilizada para curvar e entortar o aço, como um pequeno chifre. Os encalques são utilizados para fazer canaletas. De fato, é por isso que a canaleta em uma espada é chamada de encalque. Estampas são utilizadas para forçar o aço em determinadas formas, como triangular, quadrada ou hexagonal.
    • espátulas - são utilizadas para cortar ou goivar o aço.
    • punções e ponteiras - punções são utilizadas para fazer, ou pungir, um furo através do aço. Ponteiras são utilizadas para expandir um furo existente. O furo de ponteira na bigorna fornece um local para a punção ou ponteira passarem quando atravessam o aço.
  • Forja - as ferramentas mencionadas acima permitem modelar o aço quando ele está quente. Para aquecer o aço é necessária uma forja. Os tipos de forja incluem a carvão, gás e elétrica. A maioria dos cuteleiros possui um desses três tipos como sua forja principal. O tempo e temperatura podem variar bastante dependendo do aço utilizado e da técnica própria do cuteleiro.
  • Tanque de resfriamento - recipiente grande de metal cheio de óleo. O aço é submerso neste tanque após ter sido modelado. O óleo utilizado no tanque de resfriamento melhora o endurecimento do aço.
  • Banheira de resfriamento - trata-se de um grande barril ou recipiente de água utilizado para resfriar o aço e as ferramentas.
  • Ferramentas adicionais - a maioria dos cuteleiros possui algumas ou todas as ferramentas listadas aqui para completar a sua ferraria. Complementos das ferramentas normais, como chaves de fenda, serras, alicates e chaves de boca são úteis, tais como:
    • limas - utilizadas para eliminar cantos vivos e rebarbas
    • morsa - utilizada para segurar as peças em uma posição fixa enquanto o cuteleiro trabalha
    • prensa hidráulica - utilizada para modelagem bruta achatando o aço
    • maçarico - utilizado para cortar e fazer a modelagem bruta do aço
    • esmeril - utilizado para tudo desde modelagem básica até pré-polimento
    • polideira - utilizada para polir a lâmina finalizada
    • furadeira de prensa - utilizada para fazer furos no aço



Uma prensa hidráulica 
Quando as ferramentas estiverem em seus lugares, o cuteleiro precisa decidir o que ele vai fazer e que tipo de aço utilizar.




Escolhendo o grau




O tipo de liga de aço que o cuteleiro utiliza para fazer uma espada depende basicamente da sua experiência e as características que ele deseja na lâmina. A liga utilizada é quase sempre uma forma de aço carbono. Uma determinada quantidade de carbono é necessária para conferir ao metal a dureza suficiente para que ele seja afiado e mantenha o fio. Mas carbono demais diminui a flexibilidade da lâmina, tornando-a quebradiça e mais propensa a se partir.

Jim Hrisoulas, autor de "The Complete Bladesmith" (O Cuteleiro Completo) recomenda um aço com um conteúdo de carbono ao redor de 60 a 70 pontos. No aço, o conteúdo de carbono é listado em pontos, com cada ponto correspondendo a 0,01 % da composição total. Portanto, uma classificação de 70 pontos significa que a liga possui 0,7 % de carbono na mistura. Don Fogg na verdade utiliza aço 1086 (0,86 % de carbono) e obtém resultados superiores. No entanto, uma classificação mais alta nem sempre significa um aço melhor. Um processo de tratamento térmico cuidadoso permite obter lâminas muito duras que são resistentes e fortes.



O aço em uma lâmina deve possuir uma classificação de carbono de 60 a 70 pontos
A maioria das ligas de aço inclui um ou mais dos seguintes elementos, cada um fornecendo determinadas vantagens (e algumas desvantagens). Apesar dos elementos listados abaixo serem os mais comuns, há muitos outros que aparecem na liga.
  • Cromo - ajuda na dureza. É utilizado em ligas de aço inoxidável e pode fazer com que o aço apresente rachaduras durante a forjamento.
  • Tungstênio - proporciona um gume afiado e duradouro. É difícil de forjar.
  • Manganês - agrega resistência durante o tratamento térmico.
  • Molibdênio - mantém o aço duro em temperaturas mais elevadas. É muito difícil de forjar quando presente em grandes quantidades.
  • Níquel - agrega resistência e não aumenta a dureza. Aparece em maior concentração em ligas de aço inoxidável.
  • Silício - melhora a flexibilidade e dureza. Pode aumentar a condutividade da liga.
Antes de escolher um metal, o cuteleiro cria um desenho para a lâmina e determina quais serão as características mais importantes para tal lâmina. O cuteleiro também decide qual método empregar para criá-la. Isto determinará quais metais podem ser utilizados, especialmente ligas de aço inoxidável. O aço inoxidável é incrivelmente difícil de forjar e temperar adequadamente, mas um cuteleiro pode comprar barras de aço inoxidável e laminá-las para adquirir a forma desejada empregando o processo de remoção de material. Na remoção de material, uma lâmina de espada é feita pegando uma peça de aço e removendo partes dela, cortando e laminando até obter a forma desejada. A maioria dos cuteleiros prefere a flexibilidade que oforjamento proporciona ao criar espadas sob medida. Uma lâmina forjada é criada aquecendo-se o metal e malhando-o para adquirir a forma.
Espadas forjadas podem conter um único metal ou uma combinação de metais. A forma mais fácil e comum de espada forjada utiliza uma única liga de aço para criar a lâmina. Os desenhos são, às vezes, gravados ou esculpidos no aço para simular a soldagem de padrões mais complicados elâminas Damasco.
Soldagem de padrões, também chamada de aço laminado ou aço damasco de padrão soldado (veja abaixo), utiliza dois ou mais metais combinados durante o processo de forjamento. Normalmente, camadas de uma liga de aço são combinadas com camadas de um metal mais mole, como o níquel. As camadas são dobradas umas sobre as outras inúmeras vezes, o que ajuda a remover ainda mais quaisquer impurezas do metal. Isso também multiplica o número total de camadas. Se um cuteleiro começar com três camadas de níquel entre quatro camadas de aço, então dobrar uma única vez duplicará o número de camadas para 14. Outra dobra faria 28 camadas e uma terceira criaria um total de 56 camadas!



Uma lâmina Damasco de padrão soldado 
À medida que as dobras prosseguem, o metal mais mole se solda ou adere às camadas de aço juntas para formar um todo. As camadas de metal mais mole conferem à espada maior flexibilidade sem sacrificar a dureza do aço necessária para o gume. Quando a lâmina está completa, ela passa por umbanho ácido que revela o contraste entre os metais utilizados. Os padrões criados pelos diferentes metais agregam uma incrível beleza à lâmina e podem ser bastante confusos.

Aço Damasco
Uma técnica que era tida como perdida por muitos séculos, o verdadeiro aço Damasco já foi muito confundido com o aço de padrão soldado. De fato, muitos fabricantes de espadas e comerciantes ainda se referem às lâminas de padrão soldado como aço Damasco.


Detalhe de um padrão de pena em uma lâmina Damasco

J. D. Verhoeven, A. H. Pendray e W. E. Dauksch publicaram um artigo na edição de setembro de 1998 do Jornal de Metalurgia sobre o aço Damasco que deu uma reviravolta no mundo da fabricação de espadas. Eles afirmaram que o aço Damasco verdadeiro é aço Wootz. Wootz era uma forma de aço feita na Índia que continha um teor de carbono muito alto. Quando o aço era forjado, uma parte do carbono se separaria em bandas. Essas bandas apareceriam em cor muito clara e o resto do aço se tornaria bastante escuro quando polido e desenhado. O resultado era um padrão altamente contrastante. À medida que os cuteleiros aprenderam a trabalhar com o aço Wootz, eles descobriram que poderiam tornar os padrões bastante intrincados alterando o ângulo da lâmina em relação às bandas de carbono e aço. 



Malhação




forja de um cuteleiro é basicamente um forno grande muito aquecido. Cuteleiros tradicionais tendem a utilizar forjas de carvão, mas outros preferem a forja a gás ou eletricidade. Independente do tipo que um cuteleiro utiliza, o resultado desejado é o mesmo: aquecer o aço a uma temperatura adequada para modelar a espada.


O aço se torna vermelho vivo ao redor de 649º a 816º e incandescente e laranja a cerca de 982º C. A maioria das ligas de aço deve começar a ser trabalhada por volta desta faixa. Se o aço estiver mais frio e parecer azulado, ele pode ser estraçalhado pela martelagem. Por outro lado, o aço não deve ser aquecido acima de 982ºC a menos que especificado pelas orientações da liga.
Após o aço ser aquecido, o primeiro passo é chamado de retirada. Quando você retira uma porção de aço, está aumentando o comprimento do aço e reduzindo a espessura. Em outras palavras, você o está achatando na forma básica da espada. Ao malhar sobre uma das extremidades, o cuteleiro pode fazer com que o aço se curve em seu comprimento para criar uma espada curva.

Depois, o cuteleiro começa a espalmar a lâmina. Espalmar serve para criar a ponta e espiga da lâmina. Isto é feito malhando-se em ângulo, começando pelo ponto onde a quina deve iniciar e continuar até o final da lâmina. Muitas vezes esse processo cria uma lombada na grossura da lâmina que precisará ser retirada. Uma vez que a espiga estiver completa, o cuteleiro normalmente utilizará um kit de punção e rosca para fazer roscas no final da espiga para aparafusar o pomo.
O cuteleiro continuará a trabalhar na lâmina uma seção de cada vez. Ele faz isso aquecendo aquela parte da lâmina (normalmente de 15,24 a 20,32 cm) até que fique vermelho-vivo e modelando-a com o malho e outras ferramentas. Ele virará a lâmina diversas vezes durante a malhação para assegurar que ambos os lados foram trabalhados por igual.
Em determinados pontos durante o processo de forjamento, o cuteleiro normalizará o aço. Isto significa simplesmente que o aço é retornado à forja e aquecido novamente. Então, ele é deixado para esfriar sem que o cuteleiro faça nada com ele. O objetivo da normalização é aliviar o grão (estrutura cristalina) do aço. Essencialmente, toda vez que o ferreiro aquece uma seção da lâmina e trabalha nela, ele altera o grão do aço bem como a sua forma. O aço é aquecido a uma temperatura que o faz austenitizar (as moléculas de ferro e carbono começam a se misturar). O aço é removido da forja e resfriado ao ar. Isto reduz a tensão causada por irregularidades na composição da lâmina e assegura que o grão seja uniforme por toda a lâmina.
Finalmente, antes da fase de retífica e polimento, a lâmina é recozida. O recozimento é bem similar à normalização da superfície, mas certamente produz um resultado diferente. O aço é aquecido à temperatura adequada para austenitizar. O aço então é resfriado novamente de forma bem gradual. Normalmente, um material isolante é utilizado para assegurar que o aço não resfrie rápido demais.
O recozimento leva dias. Sua finalidade é tornar o aço macio e fácil de retificar ou cortar. Assim que o recozimento está completo, o cuteleiro pode começar a retificar a lâmina.


Corte final




Agora que a lâmina foi recozida, o cuteleiro pode gravar quaisquer desenhos e formar o fio e a ponta da lâmina. Utilizar um esmeril de correia é a maneira mais comum de afiar a espada, mas alguns cuteleiros preferem trabalhar com limas.

Como o aço é mole, ele não manterá o fio se você tentar cortar qualquer coisa neste momento. O aço precisa de um tratamento térmico paraendurecê-lo. O cuteleiro aquece novamente a lâmina até o ponto deaustenitização. A lâmina precisa ser aquecida por igual durante este processo. Apesar de muitos cuteleiros utilizarem a sua forja para este processo, alguns utilizam um banho de sal.
Os sais são aquecidos a uma temperatura adequada e a espada é suspensa no banho de sal por um determinado tempo. Os sais utilizados no banho de sal se liquefazem a uma temperatura mais baixa do que é necessário para o aço, mas além dessa temperatura permanecem líquidos, criando um perfeito "banho quente" para a lâmina. De modo parecido com um banho-maria, os sais aquecem por igual todo o aço.



Um banho de sal 
Quando a lâmina é removida da forja ou banho de sal, ela deve ser colocada imediatamente no tanque de resfriamento. O óleo no tanque de resfriamento faz o aço resfriar rapidamente e por igual. Se o aço não se resfriar por igual por algum motivo, a lâmina pode entortar ou sofrer pequenas rachaduras. Além disso, a lâmina não pode ser deixada no óleo tempo demais ou removida precocemente. Qualquer erro pode arruinar a lâmina. Existem orientações gerais sobre quanto tempo temperar a lâmina com base no tipo de aço, óleo ou outro meio de endurecimento no tanque de resfriamento, além da espessura da lâmina. A maioria dos cuteleiros lhe dirá que é principalmente uma combinação de experiência e instinto que os ajuda a saber quanto tempo é o suficiente. A têmpera fixa a cementinta dentro da ferrita e cria um aço muito duro chamado martensita.
Agora que o aço está endurecido, ele pode ser revenido. O revenimento, ou tratamento térmico, é feito aquecendo-se a lâmina novamente. A diferença é que ela não é aquecida até o ponto em que a austenitização ocorre. O revenimento utiliza uma temperatura muito mais baixa, novamente com base no aço utilizado. A lâmina é mantida nessa temperatura por um tempo, depois é resfriada novamente. A maioria dos cuteleiros faz vários revenimentos para obter o nível exato de dureza. A idéia é que o metal seja duro o suficiente para manter o fio mas não tão duro que seja quebradiço, o que pode fazer com que ele rache ou despedace.

Um método comum de tratamento térmico, especialmente preferido por fabricantes de espadas japoneses, é recobrir a lâmina, exceto pelo gume com uma mistura úmida de gesso que seca e endurece à medida que a lâmina é aquecida. O gesso retêm o calor e retarda o processo de resfriamento. Alguns cuteleiros criam camadas mais grossas de gesso cruzando a lâmina para retardar ainda mais o resfriamento nessas seções específicas. A ideia aqui é que tais seções sejam ligeiramente mais moles que o resto da espada para aumentarem a flexibilidade enquanto o gume se mantém duro.




Retoques finais



Assim que tiver sido feito o revestimento na lâmina, o cuteleiro agrega o restante da espada. A guarda e pomo são normalmente forjados pelo ferreiro no mesmo momento em que ele cria a lâmina. A guarda é soldada na espada em seu lugar ou simplesmente fixada nas ombreiras e fixadas pelo punho.



Um bloco de madeira é preparado para ser empregado como um punho



O punho acabado
O punho pode ser feito com vários materiais:
  • madeira
  • metal
  • arame
  • osso
  • couro
  • plástico
O punho normalmente é encaixado sobre a espiga e fixado contra a ombreira da espada (punhos de facas são normalmente rebitados ou colados). Ele é fixado pelo pomo. O pomo é rosqueado na extremidade da espiga ou encaixado sobre a espiga, sendo que neste caso a extremidade da espiga é achatada para fixar o punho sobre ela. Algumas espadas possuem o pomo e até mesmo a guarda criados como uma peça inteiriça juntamente com a lâmina.



Detalhe da guarda da lâmina
Depois que a guarda, o punho e o pomo são agregados, a espada acabada é alisada e polida. Finalmente, uma pedra de afiar é utilizada para afiar a lâmina. O produto final é resultado de um árduo trabalho do cuteleiro. Iremos ao longo do mês de férias explorar um pouco mais da simbologia e aspectos da cultura medieval que se fazem presentes até os dias de hoje. Aguarde !

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