24/08/2015

Conflito árabe-israelense (Apresentação)






 Agradeço mais uma vez ao convite do Profº. Reginaldo Borges, para ser palestrante na ETEC Osasco II, nesta manhã de 24/08/2015. Foi um aprendizado conjunto de extremo valor. Agradeço igualmente a participação dos alunos, com perguntas instigantes e de uma reflexão exemplar. Espero ter contribuído a contento para a formação de todos.
Convido a mais um minuto de reflexão com os videos abaixo, lembrando o que foi a nossa conversa.

1 - a sucessão de povos e a dominação militar da região.




2 - a Palestina no ano de 1896, uma região sob o domínio do império turco otomano. Atente para o homem que reza voltado para um muro (o das lamentações) ao final da filmagem. Sim! é um judeu em trajes turcos e a paisagem pouco destoa de uma cidade árabe.



07/08/2015

Romantismo & Burguesia

(Frederic Leighton O pescador e a sereia,1856-1858)


Romantismo é a escola artístico-literária cujos valores e estética substituiram o universo clássico. Nas origens do movimento romântico, encontram-se contos medievais, lendas e folclore de povos outrora considerados bárbaros pela cultura romana. Encontram-se também posturas ante a vida em divergência com os valores clássicos. A escola romântica é o sentimento e a possibilidade de externá-lo. É ainda a vida centrada no eu e na liberdade de expressão, daí resulta sua ligação forte com os movimentos de transformação em curso na sociedade (em especial a Revolução Francesa, Industrial).
A ideologia burguesa estava em oposição ao absolutismo (para defender seus interesses como classe social). Movimentos como o liberalismo, tinham como meta a valorização individual do homem, a partir do momento em que defende os direitos ou liberdades de pensamento e expressão.
Com a revolução industrial, a burguesia tornou-se a classe economicamente dominante. Apesar de o proletariado ter lutado ao seu lado, na Revolução Francesa, contra o regime absolutista e ter desempenhado papel fundamental na transformação da sociedade, é a burguesia que se apodera de todos os privilégios.
Com a Revolução Francesa, ocorre a queda do Antigo Regime, altera-se a estrutura da sociedade.
Com a Revolução Industrial, alteram-se as relações comerciais e de trabalho.
As duas revoluções provocaram no homem da época uma nova postura frente à realidade: a percepção de que os valores não são absolutos e de que os fatos da historia são relativos, porque viveram a experiência de fazer desmoronar a velha cultura e construir uma nova.
Essa transformação é evidenciada na literatura. O escritor romântico rompe com as formas tradicionais e rígidas do período clássico e conquista a liberdade de expressão, volta-se para seu mundo interior e faz uma leitura da realidade. Assume uma postura nacionalista, mergulhando em seu passado. . Mas vale lembrar que, em muitos casos, essa contestação ao Iluminismo burguês não era total, ela se estendia apenas às ideias mecanicistas e às simplificações otimistas. Em um segundo momento o movimento romântico é contrário as transformações que engessam as varias facetas da personalidade humana:

Numa sociedade em que todas as relações sociais são mediatizadas pela mercadoria, também a obra de arte, idéias, valores se transformam em mercadoria; relacionando entre si artistas, pensadores, moralistas através do valor de troca do produto. Este deixa de ter o caráter único, singular, deixa de ser a expressão da genialidade, do sofrimento, da angústia de um produtor
(artista, poeta, escritor) para ser um bem de consumo coletivo, destinado, desde o início, à venda, sendo avaliado segundo sua lucratividade ou aceitação de mercado e não pelo seu valor estético, filosófico, literário intrínseco.


 (William Holman Hunt O pastor galante, 1851)


O individualismo exagerado do romântico é uma compensação do materialismo da realidade circundante e uma defesa contra a hostilidade burguesa pelas coisas do espírito. 
O resultado desse individualismo no movimento romântico será uma arte de conteúdo egótico, de constante evocação do “eu”:

Era uma noite – eu dormia
E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei !
E no meu lado senti
...
Meu Deus! por que não morri?
Por que do sono acordei?
No meu leito – adormecida,
Palpitante e abatida,
A amante de meu amor!
Os cabelos recendendo
Nas minhas faces correndo
Como o luar numa flor!
(Alvares de Azevedo – Lira dos vinte anos)

Como podemos notar no fragmento acima, na linguagem romântica há o predomínio da primeira pessoa, expressando um intimismo exacerbado, que em alguns momentos revela uma obsessão narcísica. A insatisfação do romântico com a realidade gerou outra forma de contestação que ficou conhecida como escapismo, que é o desejo de evasão, de fuga da realidade. No Romantismo, o escapismo se manifestou de maneiras diversas dentre elas temos: o espacial, o temporal e o suicídio.   Em relação ao espaço, o caminho mais comum se dava em direção à natureza. Vista como um refúgio para as almas desiludidas e sua confidente.
O escritor romântico idealiza a sociedade, o homem, o amor. Quando entra em contato com seus sentimentos mais íntimos, emerge o lirismo. A natureza, o amor, a mulher, a religião são exaltados em toda a sua plenitude.
Os versos livres foram adotados e a mitologia grega é substituída pelo medievalismo.
A linguagem torna-se mais simples, mais comunicativa. Elementos como cor e imagens, figuras com hipérbole, exclamação, comparação, metáfora e prosopopeia emergem como forma de representação dos estados de alma do escritor.
O escapismo espacial representa uma espécie de reprovação aos resultados da Revolução Francesa, contrastando com o anterior otimismo burguês frente às promessas da Revolução. As classes que ficaram à margem do poder tomam consciência do que lhes foi negado e já não acreditavam no lema que conduziu a Revolução, restando, assim, a fuga.



RESUMO:

Contexto histórico



Ascensão da burguesia

I - Revolução Francesa

II - Independência dos Estados Unidos

III - Revolução industrial



Projeto literário do romantismo

- Valorização do indivíduo

- Divulgação de valores burgueses: trabalho, sacrifício e esforço

- Exaltação do amor à pátria e dos símbolos nacionais



Características do romantismo

-Egotismo

-Misticismo (lembrando a época Medieval)

-Valorização da natureza

-liberdade de criação

-Nacionalismo, e historicismo  (motivado pelas revoluções)

-Escapismo (Sonho, loucura, espaço, tempo, morte – motivado pelo desencanto do povo com as revoluções que só favoreceram aos burgueses)

-idealização do amor do herói e da mulher

-maniqueísmo (bem x mal)



Romantismo  no Brasil

-Marco 1836 com “Suspiros poéticos e saudades” (Gonçalves de Magalhães)

-Independência em 1822



1ª Geração: Indianista e Amorosa

Principais autores: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias



2ª Geração: Ultra-Romântico  e Byroniana (mal do século )

Principais autores: Alvares de Azevedo, Casemiro de Abreu, Fagundes Varella



3ª Geração: Temáticas Sociais (condorismo e poesia lírica erótica )

Principal Autor – Castro Alves



Consegue ver influências do Romantismo por aí? Ouça a música a seguir e reflita a respeito.
(Mumford and Sons - White blank page)



 Link para a letra e tradução: White Blank Page

05/08/2015

A vida é sonho - Cálderon de La Barca







Com esta peça de teatro Pedro Calderon de La Barca (1600 – 1681), assentou de vez o movimento Barroco no teatro espanhol. Mesmo em uma sociedade com valores enraizados nas ideias cristãs, os presságios no século XVII eram vistos como coisas muito sérias. A temática da peça gira em torno disto. No texto, o rei Basílio resolve prender seu filho por toda a vida pelos perigos que representava (mesmo não tendo nascido ainda, já o tinha como um vilão a ser combatido). A ideia do rei Basílio surgiu depois de alguns pesadelos de sua mulher durante a gravidez. E, além de tudo, a criança veio ao mundo num dia de eclipse (também visto pela sociedade da época como um evento de mau agouro). A sorte do príncipe Segismundo estava lançada. A peça começa justamente com Segismundo sem saber que é herdeiro do trono da Polônia, em um castelo isolado do mundo. Lá, apenas um criado o educa, fala com ele e atende a suas necessidades.

A trama acontece quando o rei, sem saber afinal se os presságios faziam ou não sentido, e com pesar, decide dar uma chance ao herdeiro, já adulto. Vai sedá-lo, tirá-lo da prisão e deixar que governe por apenas um dia. Se for bom governante, ganha o trono. Se for o tirano que se imaginava, será sedado de novo e devolvido ao cárcere. E tentarão convencê-lo de que tudo aquilo, seu dia de rei, não passou de um sonho.
A ideia de que a vida é sonho é enunciada pelo próprio protagonista, no trecho mais famoso da peça.

Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.

A ideia é que só a vida fora do mundo (Deus, o Paraíso, o mundo das ideias) é verdadeira. O mundo que vemos é uma ilusão. Estamos aqui sem ver o que importa.

E não é só o ideário religioso que está retratado ali. Calderón de La Barca também representa as disputas políticas da época. Estamos antes da Revolução Francesa. E o que está no ar ainda é o regime Absolutista.



Contam de um sábio, que um dia
Tão pobre e mísero estava
Que apenas se sustentava
Com as ervas que colhia.
“Haverá alguém”, se dizia,
“ mais triste e vil do que sou?”
E quando o rosto voltou
Achou a resposta, vendo
Outro sábio recolhendo
As folhas que ele jogou

Sonha o rei que é rei, e deve
 com este erro viver mandando,
só dispondo e governando;
e este aplauso, que por breve
período recebe, inscreve
no vento, e em cinzas a morte
o converte, triste sorte!
Há quem pretenda reinar
Vendo que há de despertar
em pleno sono da morte?

Sonha o rico em sua riqueza,
que mais ganhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e sua pobreza;
sonha o que terá grandeza,
sonha o que afana e pretende,
sonha o que agrava e ofende,
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
embora ninguém o entende.

Eu sonho que estou aqui
das prisões encarregado,
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
Uma sombra, uma ficção,
e é pequeno o maior bem:
que a vida é sonho também,
e os sonhos, sonhos são.



Cuentan de un sábio, que um día
tan pobre y mísero estaba,
que sólo se sustentaba
de unas yerbas que cogía.
¿Habrá outro, entre sí decía,
más pobre y truste que yo?
Y cuando el rostro volvió,
halló la respuesta, viendo
que iba outro sábio cogiendo
las hojas que él arrojo

Sueña el rey qye es rey, y vive
con este engano mandando,
disponiendo y governando;
y este aplauso, que recibe
prestado, em el viento escribe,
y em cenizas este aplauso, que recibe
prestado, en el viento escribe,
y em cenizas le convierte
la muerte, ¡desdicha flerte!
¿Que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
em el sueño de la muerte?
Sueña el rico em su riqueza,
que más cuidados le oferece;
sueña el pobre que padece
su miséria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende,
y en el mundo, em conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entende.
Yo sueño que estoy aqui
destas prisiones cargado,
y soñé que em outro estado
más lisonjeiro me vi.
¿Qué es la vida? Um frenesi.
¿Qué es la vida? Uma ilusión,
una sombra, uma ficción,
y el mayor bien es pequeno:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.











Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...