Jacques-Louis David
era um homem encantado com o mundo antigo, a democracia grega e a
república romana, os heróis clássicos e suas virtudes, as lutas pela
liberdade e histórias de sacrifício. Ante os acontecimentos da Revolução
Francesa, David envolveu-se profundamente com a causa revolucionária.
Em 1789, com a tomada da Bastilha e a queda da monarquia, David
filia-se aos jacobinos, o partido político da extrema esquerda, e
torna-se amigo pessoal de Robespierre e Marat. Em 1792, seria eleito
deputado.
Em 1793, David
votou pela morte do rei (seu antigo mecenas) e lutou pelo fim da
Academia Francesa de artes, que considerava elitista. Passa ele próprio a
mediar exposições públicas e supervisionar o aprendizado dos jovens
pintores, que deveriam seguir o estilo oficial – mais tarde conhecido
como neoclássico.
David percebe, desde cedo, o poder da pintura como instrumento de propaganda. Expostas em Salões abertos à população, David utilizava suas obras de forma panfletária, verdadeiras armas políticas. Ao pintar a Morte de Marat, por exemplo, David transforma o carrasco dos jacobinos em um mártir.
Além da pintura e da política, David
coordenava marchas e festas revolucionárias. Quando um séquito
transportou os despojos do filósofo iluminista Voltaire para o Panteão, a
cerimônia organizada por David
mobilizou uma multidão de 100 mil pessoas. Os festejos que organizava
também eram famosos. O último foi dedicado ao “Ser Supremo”, e
aconteceu por ocasião da decapitação de Maria Antonieta.
Para realizar tais eventos, David
utilizava-se de uma série de símbolos retirados da antiguidade
grego-romana, e inspirava-se em rituais pagãos. Logo percebeu-se o
fascínio que tais símbolos exerciam nas massas, encantadas pela rica
visualidade e por seu aspecto teatral. Tais métodos foram amplamente
utilizados no século XX por homens como Lenin, Hitler e Mussolini.
Os jacobinos governaram a França até meados de 1794, quando foram
derrubados pelos girondinos. O período jacobino é marcado pela suspensão
dos direitos civis e perseguições a adversários políticos,
especialmente entre 1793 e 1794, conhecido como período do Terror.
Estima-se que entre 16000 e 40000 pessoas foram guilhotinadas em prol da
revolução, inclusive o rei da França, Luís XVI.
David
foi preso em agosto de 1794. Diferentemente de seus companheiros
jacobinos, escapou da guilhotina, devido, principalmente, aos esforços
de sua ex-esposa, Charlotte Pécoul. Charlotte era monarquista, e
separou-se de David
por não concordar com as atitudes do marido. Mas quando este foi preso,
valeu-se de sua rede de contatos para salvar a vida de David e libertá-lo do cárcere. Reataram o casamento em 1796.
David é o pintor mais característico do neoclassicismo.
De 1 a 10, a vida de Jacques-Louis David contada através de suas obras:
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Antíoco e Estratonice (1774):
Foi com esta tela que Jacques-Louis David ganhou o prêmio Roma, na quinta vez que o disputou. Este prêmio era uma bolsa de estudos cedida pelo governo francês para talentos promissores, através de uma disputa. O vencedor passava alguns anos estudando em Roma. David era de uma família abastada, que o queria arquiteto. Mas o gosto pela pintura foi mais forte.
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O Juramento dos Horácios (1784):
De volta da capital italiana, Jacques-Louis David teve uma recepção calorosa, e desde já lhe foi reconhecido o gênio. Enviou duas obras para o Salão de 1781, e teve ambas admitidas. Instalou-se no Louvre, privilégio dos grandes artistas. “O Juramento dos Horácios” foi uma encomenda feita a David pelo rei da França.
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A Morte de Sócrates (1787):
Exibida no Salão de 1787. Foi comparada a criações de Michelangelo e Rafael, e qualificada por Diderot de “absolutamente perfeita”.
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Retrato de Lavoisier e sua Esposa (1788):
Esta obra de Jacques-Louis David mostra o famoso químico francês e sua mulher como companheiros, parceiros de estudos, já que ela o auxiliava em seus trabalhos. O quadro foi impedido de ser exposto pela aproximação que Lavoisier tinha com o partido Jacobino. O rei tentava censurar quadros que inspirassem a inevitável revolução.
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Os Litores Trazendo a Brutus os Corpos de Seus Filhos (1789):
A revolução francesa já estava em curso – era o ano de 1789!-, e a obra, por sua simbologia republicana, é logicamente censurada. Nela Jacques-Louis David conta a história de Brutus, um homem que descobre que os filhos conspiram contra a república, e os denuncia, recebendo seus corpos decapitados. É a exaltação do patriotismo em detrimento de todos os outros valores, como a família ou o individualismo. Por pressão do público, a obra acabou sendo exposta, causando uma grande comoção. -
A Morte de Marat (1793):
Obra exposta em 1793, no mesmo ano da morte do revolucionário francês que lutou pela queda da monarquia. Foi uma encomenda do partido, disposto a transformar Marat em um mártir. Neste obra, vemos a clara filiação política de Jacques-Louis David, que apoiou a revolução, votou pela morte do rei e transformou-se em um dos representantes do novo regime. Muitos consideram A Morte de Marat a sua obra prima.
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Auto Retrato (1794):
A obra foi pintada na prisão, para onde Jacques-Louis David foi mandado após a queda de Robespierre e demais revolucionários. Napoleão agora governava. David pintou a si mesmo muitos anos mais jovem, com um pincel na mão, tentando mostrar-se apenas um pintor, quando todos o acusavam de ser um dos responsáveis pelo período de terror que a França enfrentara nos últimos 15 anos – acusações acertadas, diga-se. Napoleão concedeu-lhe a liberdade.
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A Intervenção das Sabinas (1799):
Obra criada em 1799, em uma tentativa bem sucedida de atrair novamente a simpatia popular. Neste quadro, Jacques-Louis David apelava para a união nacional e pela paz, após o sangue derramado durante a revolução.
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Napoleão no Passo de Saint-Bernard (1801):
Obra encomendada pelo próprio Napoleão. Embora Jacques-Louis David estivesse oficialmente afastado da política, aceitando alunos em seu Atelier e vivendo de forma mais modesta, sua admiração por Napoleão era notória. Pintou-o diversas vezes, e foi convidado por Napoleão para ser o pintor oficial da corte.
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Marte Desarmado por Vênus e as Três Graças (1824):
Após a queda de Napoleão, com a dinastia Bourbon restaurada, Jacques-Louis David novamente se torna pessoa non grata na França. Obtém o perdão real, mas David prefere o auto-exílio em Bruxelas. Este quadro é sua última obra, terminada um ano antes do seu falecimento.
Conhecido por suas obras mais sisudas, David possuía um senso de
humor ácido, quase vulgar. Como pode ser visto nesta gravura datada de
1791. Neste ano, com a Revolução Francesa em curso, o rei tenta fugir
para a Áustria, mas é descoberto na fronteira e obrigado a retornar.
Assista agora este documentário.
O poder da arte
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