29/08/2013

O poder da Arte - Jacques Louis David




Jacques-Louis David era um homem encantado com o mundo antigo, a democracia grega e a república romana, os heróis clássicos e suas virtudes, as lutas pela liberdade e histórias de sacrifício. Ante os acontecimentos da Revolução Francesa, David envolveu-se profundamente com a causa revolucionária.
Em 1789, com a tomada da Bastilha e a queda da monarquia, David filia-se aos jacobinos, o partido político da extrema esquerda, e torna-se amigo pessoal de Robespierre e Marat. Em 1792, seria eleito deputado.
Em 1793, David votou pela morte do rei (seu antigo mecenas) e lutou pelo fim da Academia Francesa de artes, que considerava elitista. Passa ele próprio a mediar exposições públicas e supervisionar o aprendizado dos jovens pintores, que deveriam seguir o estilo oficial – mais tarde conhecido como neoclássico.
David percebe, desde cedo, o poder da pintura como instrumento de propaganda. Expostas em Salões abertos à população, David utilizava suas obras de forma panfletária, verdadeiras armas políticas. Ao pintar a Morte de Marat, por exemplo, David transforma o carrasco dos jacobinos em um mártir.
Além da pintura e da política, David coordenava marchas e festas revolucionárias. Quando um séquito transportou os despojos do filósofo iluminista Voltaire para o Panteão, a cerimônia organizada por David mobilizou uma multidão de 100 mil pessoas. Os festejos que organizava também eram famosos. O último foi dedicado ao “Ser Supremo”, e aconteceu por ocasião da decapitação de Maria Antonieta.
Para realizar tais eventos, David utilizava-se de uma série de símbolos retirados da antiguidade grego-romana, e inspirava-se em rituais pagãos. Logo percebeu-se o fascínio que tais símbolos exerciam nas massas, encantadas pela rica visualidade e por seu aspecto teatral. Tais métodos foram amplamente utilizados no século XX por homens como Lenin, Hitler e Mussolini.
Os jacobinos governaram a França até meados de 1794, quando foram derrubados pelos girondinos. O período jacobino é marcado pela suspensão dos direitos civis e perseguições a adversários políticos, especialmente entre 1793 e 1794, conhecido como período do Terror. Estima-se que entre 16000 e 40000 pessoas foram guilhotinadas em prol da revolução, inclusive o rei da França, Luís XVI.
David foi preso em agosto de 1794. Diferentemente de seus companheiros jacobinos, escapou da guilhotina, devido, principalmente, aos esforços de sua ex-esposa, Charlotte Pécoul. Charlotte era monarquista, e separou-se de David por não concordar com as atitudes do marido. Mas quando este foi preso, valeu-se de sua rede de contatos para salvar a vida de David e libertá-lo do cárcere. Reataram o casamento em 1796.


David é o pintor mais característico do neoclassicismo.
De 1 a 10, a vida de Jacques-Louis David contada através de suas obras:
  • Antíoco e Estratonice (1774):

    Foi com esta tela que Jacques-Louis David ganhou o prêmio Roma, na quinta vez que o disputou. Este prêmio era uma bolsa de estudos cedida pelo governo francês para talentos promissores, através de uma disputa. O vencedor passava alguns anos estudando em Roma. David era de uma família abastada, que o queria arquiteto. Mas o gosto pela pintura foi mais forte.
    Antíoco e Estratonice, 1774
    Antíoco e Estratonice, 1774
  • O Juramento dos Horácios (1784):

    De volta da capital italiana, Jacques-Louis David teve uma recepção calorosa, e desde já lhe foi reconhecido o gênio. Enviou duas obras para o Salão de 1781, e teve ambas admitidas. Instalou-se no Louvre, privilégio dos grandes artistas. “O Juramento dos Horácios” foi uma encomenda feita a David pelo rei da França.
    O Juramento dos Horácios, 1784
    O Juramento dos Horácios, 1784
  • A Morte de Sócrates (1787):

    Exibida no Salão de 1787. Foi comparada a criações de Michelangelo e Rafael, e qualificada por Diderot de “absolutamente perfeita”.
    A Morte de Sócrates, 1787
    A Morte de Sócrates, 1787
  • Retrato de Lavoisier e sua Esposa (1788):

    Esta obra de Jacques-Louis David mostra o famoso químico francês e sua mulher como companheiros, parceiros de estudos, já que ela o auxiliava em seus trabalhos. O quadro foi impedido de ser exposto pela aproximação que Lavoisier tinha com o partido Jacobino. O rei tentava censurar quadros que inspirassem a inevitável revolução.
    Retrato de Lavoisier e sua Esposa, 1788
    Retrato de Lavoisier e sua Esposa, 1788
  • Os Litores Trazendo a Brutus os Corpos de Seus Filhos (1789):

    A revolução francesa já estava em curso – era o ano de 1789!-, e a obra, por sua simbologia republicana, é logicamente censurada. Nela Jacques-Louis David conta a história de Brutus, um homem que descobre que os filhos conspiram contra a república, e os denuncia, recebendo seus corpos decapitados. É a exaltação do patriotismo em detrimento de todos os outros valores, como a família ou o individualismo. Por pressão do público, a obra acabou sendo exposta, causando uma grande comoção.
    Os Litores Trazendo a Brutus os Corpos de Seus Filhos, 1789
    Os Litores Trazendo a Brutus os Corpos de Seus Filhos, 1789
  • A Morte de Marat (1793):

    Obra exposta em 1793, no mesmo ano da morte do revolucionário francês que lutou pela queda da monarquia. Foi uma encomenda do partido, disposto a transformar Marat em um mártir. Neste obra, vemos a clara filiação política de Jacques-Louis David, que apoiou a revolução, votou pela morte do rei e transformou-se em um dos representantes do novo regime. Muitos consideram A Morte de Marat a sua obra prima.
    A Morte de Marat, 1793
    A Morte de Marat, 1793
  • Auto Retrato (1794):

    A obra foi pintada na prisão, para onde Jacques-Louis David foi mandado após a queda de Robespierre e demais revolucionários. Napoleão agora governava. David pintou a si mesmo muitos anos mais jovem, com um pincel na mão, tentando mostrar-se apenas um pintor, quando todos o acusavam de ser um dos responsáveis pelo período de terror que a França enfrentara nos últimos 15 anos – acusações acertadas, diga-se. Napoleão concedeu-lhe a liberdade.
    Autorretrato, 1794
    Autorretrato, 1794
  • A Intervenção das Sabinas (1799):

    Obra criada em 1799, em uma tentativa bem sucedida de atrair novamente a simpatia popular. Neste quadro, Jacques-Louis David apelava para a união nacional e pela paz, após o sangue derramado durante a revolução.
    A Intervenção das Sabinas, 1799
    A Intervenção das Sabinas, 1799
  • Napoleão no Passo de Saint-Bernard (1801):

    Obra encomendada pelo próprio Napoleão. Embora Jacques-Louis David estivesse oficialmente afastado da política, aceitando alunos em seu Atelier e vivendo de forma mais modesta, sua admiração por Napoleão era notória. Pintou-o diversas vezes, e foi convidado por Napoleão para ser o pintor oficial da corte.
    Napoleão no Passo de Saint Bernard, 1801
    Napoleão no Passo de Saint Bernard, 1801
  • Marte Desarmado por Vênus e as Três Graças (1824):

    Após a queda de Napoleão, com a dinastia Bourbon restaurada, Jacques-Louis David novamente se torna pessoa non grata na França. Obtém o perdão real, mas David prefere o auto-exílio em Bruxelas. Este quadro é sua última obra, terminada um ano antes do seu falecimento.
    Marte Desarmado por Vênus e as Três Graças, 1824
    Marte Desarmado por Vênus e as Três Graças, 1824


The Oath of the Tennis Court
The Oath of the Tennis Court


Conhecido por suas obras mais sisudas, David possuía um senso de humor ácido, quase vulgar. Como pode ser visto nesta gravura datada de 1791. Neste ano, com a Revolução Francesa em curso, o rei tenta fugir para a Áustria, mas é descoberto na fronteira e obrigado a retornar.


Assista agora este documentário.


O poder da arte


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...