O engenho e o fabrico do açúcar no Brasil colonial
"De 1500 a 1822, do descobrimento
à independência, o Brasil exportou mercadorias num total de 586 milhões de
libras esterlinas. Nesse total de valores, a que produção cabe o maior
contingente? Ao ouro, responder-se-á. Não: o ouro contribuiu apenas com 170
milhões. O café, só começou no fim, e, na nossa balança comercial, pesava menos
do que o arroz, do que o algodão, do que o fumo, as madeiras, os couros, e
apenas um pouco mais que o cacau. Sua exportação, no período colonial, não
passou de quatro milhões, no total. Houve, do descobrimento à independência, um
produto que, sozinho, rendeu mais do que todos os outros reunidos, aí
incluindo-se os da mineração: o açúcar, do qual exportamos 800 milhões de
libras esterlinas". Luís Amaral, história geral da
agricultura brasileira v. 1, p. 326, 1958.
Um dos melhores relatos sobre a produção açucareira e o fabrico do açúcar foi escrito pelo jesuíta italiano Giovanni Antonio (1649-1716), o qual morando no Brasil passou a adotar o nome de André João Antonil. Em 1711 ele publicou em Lisboa seu livro, Cultura e Opulência no Brasil por suas drogas e minas. Neste livro ele comenta de forma detalhada a realidade do cultivo da cana, a estrutura do engenho e o fabrico do açúcar, tendo como base os engenhos baianos nos fins do século XVII e idos do XVIII. O livro original possui mais de 200 páginas, embora trate também da produção do tabaco, da mineração do ouro, da pecuária, etc. A primeira parte do livro é dedicada apenas a abordar a produção do açúcar. Aos interessados, recomendo ler este livro que possui versões em português atual.
O açúcar: da Ásia as Américas
Originalmente havia seis espécies de Saccarum, nome científico da
cana-de-açúcar. A primeira espécie a ser domesticada foi a Saccarum officinarum, a qual com o passar dos séculos
e o aumento pelo interesse do cultivo dessa planta, levou-se a hibridização entre
as espécies, levando a criação de espécies híbridas, as quais possuíam
características melhores do que as plantas originais. O cruzamento entre
espécies no cultivo de plantas ou na criação de animais é algo comum e bastante
antigo, pois o ser humano notou que determinadas características físicas
poderiam ser transmitidas pelo cruzamento. Vale lembrar que essa ideia surgiu
muito antes da concepção de DNA, genética, fenótipo, etc.
Outro fato curioso é que a cana-de-açúcar pertence a família das Poaceae, família esta a qual pertence o milho, o arroz, o sorgo, trigo, cevada, centeio, aveia, bambu, etc.
Outro fato curioso é que a cana-de-açúcar pertence a família das Poaceae, família esta a qual pertence o milho, o arroz, o sorgo, trigo, cevada, centeio, aveia, bambu, etc.
"A cana sacarina não atinge a altura de uma árvore, mas a do milho
e de outras canas, erguendo-se em calamos de sete a oito pés, com uma polegada
de grossura. É esponjosa, suculenta e cheia de um miolo doce e branco. Teem as
folhas dois côvados de comprimento, a flor é filamentosa e a raiz macia e pouco
lenhosa. Desta saem rebentos para a esperança de nova safra. Gosta de solo
úmido, clima quente e ar mais tépido. A índia Ocidental é feracíssima destas
canas, conquanto também as produza a Oriental". (BARLÉUS, 1940, p. 74).
A cana-de-açúcar é originária da ilha de Nova Guiné, de onde se espalhou
pelo arquipélago malaio, a Indonésia, até que migrou para o continente, se estabelecendo na Índia e no sudeste asiático
em países hoje como Vietnã, Camboja, Laos, Myanmar e o sul da China. Na Índia
encontramos menções ao cultivo dessa planta e ao uso ritualístico da mesma em
alguns textos antigos, por exemplo, no Mahabharata, importante poema
hindu, há menções a cana-de-açúcar, inclusive que o deus do amor Kama, possuía um arco feito de cana. Seria daí a ideia que o amor é doce?
A cana foi cultivada ao longo de séculos por diferentes povos asiáticos,
contudo não se tem uma certeza de quando ela migrou para o oeste asiático.
Amaral [1958] apontou que a cana teria sido levada para a Pérsia ainda
no tempo de Alexandre, o Grande no século IV a.C, pois sabemos que
Alexandre realizou incursões até a Índia. E da Pérsia a planta
teria chegado a Síria. Contudo, sua distribuição
pelo Oriente Médio se deu com os árabes, séculos depois, já na Idade Média.
Com a expansão do império islâmico dos descendentes do legado do profeta Maomé (570-632), no final do século XI a Europa cristã entrou em conflito com o mundo árabe, o principal motivo, a conquista da sagrada cidade de Jerusalém. Com o desenrolar das Cruzadas, os europeus tiveram contato com novas plantas, animais, povos e culturas, e um destes contatos foi com a cana-de-açúcar a qual atraiu o interesse de alguns comerciantes italianos, que levaram algumas mudas para serem plantadas na Sicília e na ilha de Rodes. Além disso, a expansão árabe levou esse povo do deserto a adentrar o Egito e se espalhar pelo norte e o leste da África.
Com a expansão do império islâmico dos descendentes do legado do profeta Maomé (570-632), no final do século XI a Europa cristã entrou em conflito com o mundo árabe, o principal motivo, a conquista da sagrada cidade de Jerusalém. Com o desenrolar das Cruzadas, os europeus tiveram contato com novas plantas, animais, povos e culturas, e um destes contatos foi com a cana-de-açúcar a qual atraiu o interesse de alguns comerciantes italianos, que levaram algumas mudas para serem plantadas na Sicília e na ilha de Rodes. Além disso, a expansão árabe levou esse povo do deserto a adentrar o Egito e se espalhar pelo norte e o leste da África.
Na região que hoje é o Marrocos, os árabes
atravessaram o Estreito de Gibraltar e adentraram o que hoje é o sul da Espanha. Nos séculos
seguintes eles expandiram seus domínios na península Ibérica, governado grandes
partes dos atuais territórios de Portugal e Espanha, e com essa colonização, eles implantaram o cultivo de novas
plantas: laranjas, limões, chá, inclusive a cana-de-açúcar. Os árabes que se
miscigenaram nesse tempo com povos berberes do norte da África, passaram a serem chamados pelos espanhóis e
portugueses de mouros. Na Itália, Grécia e
na Terra Santa, os europeus chamavam os árabes também de sarracenos.
O açúcar por muito tempo foi usado na Europa como medicamento, nesse
caso, os médicos recitavam o seu consumo puro, ou o mesmo era usado como
ingrediente no fabrico de poções, pastas, beberagens, etc. Embora propriamente
não possua propriedades curativas eficientes, o açúcar com seu alto teor de
sacarose é um energético natural.
"Servia de remédio, de emplastro, de moeda e até de agente para a magia negra, com bruxedos e quiromancias." Segundo Thevet, "les Anciens estimerent for le sucre de l'Arabie, pour se qu'il estoit souverain... en médecines, mais aujord'huy la volupté est augmentée jusques là que l'on ne saurait faire si petit banquet que toutes les saulces ne soyent sucrées, et aucune Pois les viandes". (AMARAL, 1958, p. 327).
"Servia de remédio, de emplastro, de moeda e até de agente para a magia negra, com bruxedos e quiromancias." Segundo Thevet, "les Anciens estimerent for le sucre de l'Arabie, pour se qu'il estoit souverain... en médecines, mais aujord'huy la volupté est augmentée jusques là que l'on ne saurait faire si petit banquet que toutes les saulces ne soyent sucrées, et aucune Pois les viandes". (AMARAL, 1958, p. 327).
"O sumo das primeiras é de louvar pela limpidez e utilidade, e esta
utilidade conhecem-na as cozinhas e as farmácias, os sãos e os enfermos, pois
serve o açúcar de alimento e de remédio. É depois da manteiga, um regalo da
nossa alimentação e um grato estímulo da gula nos doces e nas sobremesas".
(BARLÉU, 1940, p. 74).
Ainda hoje existem medicações que utilizam açúcar na receita, por exemplo, o soro caseiro leva açúcar e sal no seu preparo. Mas hoje se sabe que em grande quantidade ele é bastante prejudicial a saúde, contudo, na Idade Média e na Idade Moderna era comum o uso do que chamamos hoje de medicina alternativa, logo, possuímos uma infinidade de medicamentos naturais que usavam os mais diversos tipos de ingredientes, que lembram as mirabolantes poções mágicas vistas na literatura, nos filmes e desenhos. Com o açúcar não foi diferente. Barléu [1940] conta brevemente que o açúcar em tempos antigos, era usado como remédio para problemas no estômago, intestinos, fígado e outros males.
Além do fato de ser usado como medicamento, o açúcar também era usado no
preparo de alimentos e bebidas, afinal era uma das especiarias das Índias.
Logo, vemos em alguns países como Portugal, os Reinos hispânicos (a Espanha só
foi unificada no final do século XV), nas cidade-Estados italianas, na França e
na Inglaterra, nobres ou ricos comerciantes dando baús com açúcar como
presente, algo considerado um presente de luxo.
"Antigamente um pão de açúcar
(cada pão tinha pouco mais de dois quilos) era arrolado como bem precioso, nos
tesouros reais. Atribuía-se ao produto da cana virtudes miraculosas para a
saúde. Sete pães de açúcar (14 quilos), deixa a mulher de Carlos V da França,
no seu testamento, entre joias preciosas. E o sucessor deste rei dá a outro
soberano, como presente real, mais alguns quilos da mágica mercadoria." À
época do descobrimento do Brasil, a Europa tomava tudo com açúcar: a carne, o
vinho, o peixe". (AMARAL, 1958, p. 327).
Na Inglaterra do governo dos Tudor no século XVI, o açúcar era tão caro, que apenas os ricos o
compravam. Uma fato curioso é que como as pessoas não tinham o hábito de
escovar os dentes, ou usar outro meio para limpá-los; de tanto consumirem
açúcar e doces, os dentes acabavam ficando escuros devido as cáries. Contudo, a
nobreza soube contornar esse fato. Os dentes cariados passaram a ser sinônimo
de "riqueza", pois significava que para ter dentes escuros devido ao
açúcar, você deveria ter muito dinheiro para comprar açúcar. Logo, havia casos
de pessoas menos abastadas que passavam fuligem e outras substâncias para
escurecerem os dentes. As classes mais baixas sempre quiseram imitar o modo de
vida das elites.
Até o século XVIII na Europa, o açúcar ainda continuaria a ser um
produto lucrativo e por muito tempo acessível apenas pelas elites, pois nos
casos das classes baixas, quando essas conseguiam ter acesso a esse produto,
consumiam um açúcar de péssima qualidade, geralmente o chamado açúcar mascavo,
que era visto como de qualidade inferior, e relegado as classes menos
abastadas.
No século XV, os portugueses já possuíam seus canaviais no sul de
Portugal, na região de Algarves, e com o início da Era dos descobrimentos em 1415 com a conquista da
cidade moura de Ceuta no Magreb (hoje Marrocos), os lusos iniciaram
suas viagens ultramarinas pela costa ocidental africana e pelo oceano adentro.
Por volta de1418 os navegadores João Gonçalvez Zarco e Tristão Vaz Teixeira descobriram a ilha do Porto Santo, e no ano seguinte, Zarco retornou em companhia de Bartolomeu
Perestrelo e descobriram a ilha da Madeira, a qual veio a batizar o arquipélago. O infante D. Henrique (1394-1460) um dos principais
responsáveis pela política expansionista marítima de Portugal, foi quem expediu
as ordens para se iniciar o cultivo de cana na Madeira, nos Açores, no Cabo Verde e em outras localidades. D. Henrique viu que o açúcar era um produto
rentável, e decidiu ampliar os canaviais nos domínios portugueses.
Na Ilha da Madeira onde surgiram os primeiros engenhos portugueses, neste caso em 1452, Diogo Vaz de Teive, escudeiro do infante D. Henrique, construiu o primeiro engenho na ilha, na Capitania do Funchal. Seu engenho era movido a água. Em 1590,Gaspar Frutuoso, autor de Saudades da Terra, apontava a existência de mais de 30 engenhos apenas na Madeira, embora salienta-se que a produção açucareira madeirense estivesse em declínio devido a produção brasileira que a ultrapassara.
Na Ilha da Madeira onde surgiram os primeiros engenhos portugueses, neste caso em 1452, Diogo Vaz de Teive, escudeiro do infante D. Henrique, construiu o primeiro engenho na ilha, na Capitania do Funchal. Seu engenho era movido a água. Em 1590,Gaspar Frutuoso, autor de Saudades da Terra, apontava a existência de mais de 30 engenhos apenas na Madeira, embora salienta-se que a produção açucareira madeirense estivesse em declínio devido a produção brasileira que a ultrapassara.
"Em 1440 uma arroba valia, na
Inglaterra, 18,30 gramas de ouro, que representam 1:120$000 em poder aquisitivo
de hoje, ou sejam 75$000 o quilo. Em 1470, este preço havia baixado para
45$000, e, em 1501, valia apenas 8$500 o quilo. A produção portuguesa,
principalmente a da Ilha da Madeira, provocou a destruição das culturas do
Mediterrâneo e o desequilíbrio no comércio". (SIMONSEN, 1937, p. 145).
Para tentar aumentar o preço da arroba do pão-de-açúcar, em 1496 o rei português, D. Manuel Ilimitou a produção açucareira da Madeira em 120 mil arrobas anuais, a fim de controlar a disponibilidade do produto e logo os preços de venda e compra. Diminuindo a oferta da mercadoria, os preços aumentariam. Dessas 120 mil arrobas, segundo uma nota de Furtado [2005], 40 mil arrobas destinadas a Flandres, 16 mil para Veneza, 13 mil para Gênova, 15 mil para Chios e 7 mil para a Inglaterra. Tais países eram os principais consumidores do açúcar português.
Em 1493, Cristóvão Colombo (1451-1506) retornava ao Novo Mundo, ao mar da Caraíbas ou mar do Caribe, onde um ano antes havia chegado, acreditando que se encontrava em algum lugar das Índias, daí ter chamado os habitantes naturais de índios. Colombo havia "descoberto" o Novo Mundo, as Índias Ocidentais, as Américas em 12 de outubro de 1492, nessa viagem de retorno ele foi incumbido pelo rei de Espanha de continuar a exploração de outras ilhas, pois embora no ano anterior Colombo havia chegado a uma ilha nas Bahamas que ele batizara de San Salvador, nessa segunda viagem, ele avistou e visitou outras ilhas, mas optou em aportar numa grande ilha que foi batizada em 1493 de Hispaniola ("pequena Espanha") atual ilha de São Domingos, onde se localizam os países daRepública Dominicana e o Haiti, os quais dividem a mesma ilha. Foi em Hispaniola que Colombo fundou a vila de La Natividad e plantaram o primeiro canavial das Américas.
O açúcar chega ao Brasil:
Em 22 de abril de 1500 a frota de doze navios comandados por Pedro Álvares Cabral (1467/1468-1520) avistou terra, a qual batizara de Ilha de Vera Cruz. Após fazerem contato com os indígenas, poucos dias depois a terra "descoberta" foi rebatizada para Terra de Santa Cruz, para que décadas depois viesse a ser chamado de Brasil. Mas de qualquer forma dessa data de 1500 até 1532, Santa Cruz não foi colonizada, os portugueses apenas se ocuparam em mapear a costa, fazer contato com os indígenas, descrever a fauna e flora, extrair pau-brasil, pois ouro e prata não foram descoberto neste tempo. Além disso, o comércio de especiarias na Ásia era bem lucrativo e concentrava os esforços políticos e econômicos da Coroa, afinal Cabral iniciou sua viagem com a missão inicial de chegar novamente a Índia, usando a rota descoberta por Vasco da Gama (1460/1469-1520) em 1498.
Além desse lucrativo comércio das especiarias orientais, Portugal também não mostrou interesse em plantar inicialmente cana no Novo Mundo algo que os espanhóis fizeram, pois a produção na Madeira, Açores, Cabo Verde e Algarves supria as necessidades de consumo. Normalmente nas escolas vemos que as primeiras mudas chegaram em 1531 na expedição de Martim Afonso de Sousa, contudo há indícios que houve tentativas anteriores de se cultivar cana no Brasil, e possivelmente teriam dado êxito.
Amaral [1958] aponta que no ano de 1516 a Casa da Índia, uma companhia mercantil portuguesa que cuidava de negócios nas Índias, cogitou enviar alguns produtores de cana-de-açúcar para Santa Cruz, a fim de estudar a terra e as possibilidades de se plantar cana. O historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), nos revelou um parecer interessante sobre a proposta da Casa da Índia:
“Sabemos, que em 1516 ordenou, por um alvará, ao feitor e officiaes da
Casa da Índia que dessem machados e enchadas e toda a mais ferramenta ás
pessoas que fossem a povoar o Brazil"; e que, por outro alvará, ordenou ao
mesmo feitor e officiaes que «procurassem e elegessem um homem prático e capaz
de ir ao Brazil dar principio a um engenho de assucar; e que se lhe desse sua
ajuda de custo, e também todo o cobre e ferro e mais cousas necessárias"
para a fabrico do dito engenho”. (VARNHAGEN, 1858, p. 95).
Em 1526, nos registros
alfandegários de Lisboa já constava imposto sobre açúcar produzido em
Santa Cruz. Amaral sugere que se houvesse canaviais por essa época,
provavelmente eles deveriam estar ou em Ilhéus como sugeriu Gabriel Soares de Sousa, ou
em Itamaracá, onde se encontrava uma
das mais importantes feitorias da colônia. Para Amaral, os canaviais deveriam
estar em Itamaracá, pois lá ficava a feitoria de Cristóvão Jacques (ca.
1480 - ca. 1530), um nobre português que chegou ao Brasil em 1503. Jacques
retornou em 1516 e permaneceu três anos, liderando patrulhas marítimas para se
combater os piratas franceses, indo da costa do Rio Grande do Norte até a foz
do Rio da Prata. Sabe-se que ele em suas viagens combatera os franceses algumas
vezes, e fez prisioneiros. Em 1521 ele retornou e fundou uma feitoria em
Itamaracá, a qual Amaral [1958] cogitava ser o local de onde provinha o açúcar
mencionado nos registros alfandegários lisboetas de 1526, contudo, não se tem
certeza se o açúcar realmente proveria dali, ou se havia canaviais antes de
1532.
"A lavoura de cana no Nordeste - pode-se acrescentar, no Brasil - parece ter começado nas terras de Itamaracá, à beira da água doce, como também da salgada; das duas águas ao mesmo tempo. E quando depois se regularizou, com Duarte Coelho, foi para acompanhar as 'terras vizinhas das ribeiras'". (FREYRE, 1967, p. 20).
Em 1527, Cristóvão se encontrava em Portugal e sugeriu ao rei D. João III, retornar ao Brasil para iniciar a colonização, mas o rei recusou a aceitar tal pedido, e três anos depois enviou a expedição de Martim Afonso de Sousa com esse intuito. É importante mencionar que expedições regulares partiam todos os anos de Portugal para o Brasil, a fim de cortar pau-brasil, explorar a costa e defender as terras, principalmente dos franceses, embora que os espanhóis também passaram por ali nesse tempo.
"A lavoura de cana no Nordeste - pode-se acrescentar, no Brasil - parece ter começado nas terras de Itamaracá, à beira da água doce, como também da salgada; das duas águas ao mesmo tempo. E quando depois se regularizou, com Duarte Coelho, foi para acompanhar as 'terras vizinhas das ribeiras'". (FREYRE, 1967, p. 20).
Em 1527, Cristóvão se encontrava em Portugal e sugeriu ao rei D. João III, retornar ao Brasil para iniciar a colonização, mas o rei recusou a aceitar tal pedido, e três anos depois enviou a expedição de Martim Afonso de Sousa com esse intuito. É importante mencionar que expedições regulares partiam todos os anos de Portugal para o Brasil, a fim de cortar pau-brasil, explorar a costa e defender as terras, principalmente dos franceses, embora que os espanhóis também passaram por ali nesse tempo.
Marfim Afonso de Sousa
Em 1530 o rei de Portugal
D. João III nomeou o nobre e militar Martim Afonso de Sousa (c.
1490/1500-1571) para uma importante missão na colônia portuguesa de Santa Cruz,
pois oficialmente só passaria a ser chamada Brasil, alguns anos depois, embora
que extraoficialmente alguns marinheiros já chamassem a colônia de Brasil
devido ao comércio do pau-brasil. A missão de Martim era proteger a costa dos
navios franceses que iam contrabandear pau-brasil, além de realizar novas
explorações por terra e até mesmo escolher um local para iniciar um pequeno
núcleo urbano, esse foi o antecedente das capitanias hereditárias.
"31 de Janeiro de 1531 estavam diante do Cabo de Santo Agostinho e já na costa de Pernambuco; encontrando navios franceses deram-lhes caça, tomando três, um queimado, outro enviado ao reino carregado de brasil, o terceiro encorporado à armada, que ia a caminho do Rio da Prata. Na Bahia foram acolhidos por Diogo Álvares, o Caramurú, e Pero Lopes achou, das baianas, que “eram mui fermosas e não haviam nenhuma inveja às da rua Nova, de Lisboa”. (Diário de Navegação, ed. de E. de Castro, Rio, 1927, p. 154). Depois no Rio de Janeiro, (p. 174) onde se demoraram, fizeram desembarque(14) e exploração, terra a dentro: “a gente deste rio é como a da Baía de Todos os Santos, senão quanto é mais gentil gente”, diz ainda Pero Lopes". (PEIXOTO, 1944, p. 86).
Martim e seus homens seguiram até o Rio da Prata, mas em 1532 retornaram para o norte e aportaram na ilha de São Vicente (hoje na costa de São Paulo), lá ele escolheu o local para fundar a primeira vila da colônia, a Vila de São Vicente, na ocasião também se plantaram mudas de cana-de-açúcar e se construiu um engenho chamado "Engenho dos Erasmos". Ainda no mesmo ano fundou-se a Vila do Piratininga com o apoio de João Ramalho, português exilado naquela região que acabou se tornando genro do cacique Tibiriça. A vila do Piratininga ficava continente adentro, já indo em direção ao planalto. Anos depois fundou-se a Vila de Santos e a Vila de Santo Amaro.
"31 de Janeiro de 1531 estavam diante do Cabo de Santo Agostinho e já na costa de Pernambuco; encontrando navios franceses deram-lhes caça, tomando três, um queimado, outro enviado ao reino carregado de brasil, o terceiro encorporado à armada, que ia a caminho do Rio da Prata. Na Bahia foram acolhidos por Diogo Álvares, o Caramurú, e Pero Lopes achou, das baianas, que “eram mui fermosas e não haviam nenhuma inveja às da rua Nova, de Lisboa”. (Diário de Navegação, ed. de E. de Castro, Rio, 1927, p. 154). Depois no Rio de Janeiro, (p. 174) onde se demoraram, fizeram desembarque(14) e exploração, terra a dentro: “a gente deste rio é como a da Baía de Todos os Santos, senão quanto é mais gentil gente”, diz ainda Pero Lopes". (PEIXOTO, 1944, p. 86).
Martim e seus homens seguiram até o Rio da Prata, mas em 1532 retornaram para o norte e aportaram na ilha de São Vicente (hoje na costa de São Paulo), lá ele escolheu o local para fundar a primeira vila da colônia, a Vila de São Vicente, na ocasião também se plantaram mudas de cana-de-açúcar e se construiu um engenho chamado "Engenho dos Erasmos". Ainda no mesmo ano fundou-se a Vila do Piratininga com o apoio de João Ramalho, português exilado naquela região que acabou se tornando genro do cacique Tibiriça. A vila do Piratininga ficava continente adentro, já indo em direção ao planalto. Anos depois fundou-se a Vila de Santos e a Vila de Santo Amaro.
"A cana
de açúcar trazida para aí, da Madeira (Gabriel Soares diz que
viera primeiro de Cabo Verde para os Ilhéus) deu o primeiro
engenho de açúcar, que chegou a ser próspero, sob o nome engenho
dos “Erasmos”, de uma firma de ricos homens de Flandres,
Erasmo Schetz, a cujos feitores se refere Anchieta. Na futura vila
de Santos, junto a S. Vicente, Braz Cubas estabeleceu o
primeiro monjolo, ou engenhoca, de pilar cereais". (PEIXOTO, 1944, p.
89).
Mapa da ilha de São Vicente,
Luiz Teixeira, 1586.
Dois anos após a
fundação da Vila de São Vicente, o rei D. João III decretava a criação das Capitanias
Hereditárias no Brasil, dividindo a costa em
15 capitanias iniciais e as doando a seus donatários responsáveis
para colonizar a terra e desenvolver a agricultura e a pecuária, assim como
continuar a explorar aquelas matas em busca de riquezas.
"Os donatários seriam de juro e herdade senhores de
suas terras; teriam jurisdicção civil e criminal, com alçada até
cem mil reis na primeira, com alçada no crime até morte natural
para escravos, indios, peões e homens livres, para pessoas de mór
qualidade até dez annos de degredo ou cem cruzados de pena;
na heresia (se o herege fosse entregue pelo ecclesiastico),
traição, sodomia, a alçada iria até morte natural, qualquer que fosse a
qualidade do réu, dando-se appellação ou aggravo somente si a
pena não fosse capital. Os donatários poderiam fundar villas, com
termo, jurisdicção, insignias, ao longo das costas e rios navegáveis;
seriam senhores das ilhas adjacentes até distancia de dez léguas da
costa; os ouvidores, os tabelliães do publico e judicial seriam
nomeados pelos respectivos donatários, que poderiam livremente dar
terras de sesmarias, excepto á própria mulher ou ao filho herdeiro".
(ABREU, 1907, p. 36).
Em 1535, o donatário de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira (ca. 1485-1554) fundou o primeiro engenho da sua capitania, nas cercanias da Vila de Olinda (fundada por Duarte em 1534), chamadoEngenho Velho. Para Amaral [1958] a importância do Brasil como novo polo açucareiro era demasiadamente clara, ao ponto de que em 1535 na Vila de São Vicente já havia mais de três engenhos, ou seja, três anos depois da fundação do primeiro.
"Desde o alvará de D. Manuel e depois, conforme observou João Lúcio de Azevedo, o "privilégio, outorgado ao donatário, de só ele fabricar e possuir moendas e engenhos de água, denota ser a lavoura de açúcar a que se tenta especialmente em mira". No mesmo sentido eram feitos os regimentos e as leis referentes à colônia: o de Tomé de Sousa, excluindo o senhor de engenho das execuções por dívidas; e dos governadores de Pernambuco, assegurando privilégios aos que edificassem ou reedificassem engenhos; a meia fidalguia concedida a quantos se tornassem senhores de engenho". (AMARAL, 1958, p. 328).
Em 1535, o donatário de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira (ca. 1485-1554) fundou o primeiro engenho da sua capitania, nas cercanias da Vila de Olinda (fundada por Duarte em 1534), chamadoEngenho Velho. Para Amaral [1958] a importância do Brasil como novo polo açucareiro era demasiadamente clara, ao ponto de que em 1535 na Vila de São Vicente já havia mais de três engenhos, ou seja, três anos depois da fundação do primeiro.
"Desde o alvará de D. Manuel e depois, conforme observou João Lúcio de Azevedo, o "privilégio, outorgado ao donatário, de só ele fabricar e possuir moendas e engenhos de água, denota ser a lavoura de açúcar a que se tenta especialmente em mira". No mesmo sentido eram feitos os regimentos e as leis referentes à colônia: o de Tomé de Sousa, excluindo o senhor de engenho das execuções por dívidas; e dos governadores de Pernambuco, assegurando privilégios aos que edificassem ou reedificassem engenhos; a meia fidalguia concedida a quantos se tornassem senhores de engenho". (AMARAL, 1958, p. 328).
“Em 1576, Pernambuco exportava cerca de 70 mil arrobas de açúcar e em
1583 a cifra subia a 200 mil arrobas. "Nos princípios do século XVII, diz
de Carli, possuindo o Brasil 200 engenhos, a sua produção era de 25 mil a 35
mil caixas de açúcar de 35 arrobas cada uma. É o tempo áureo do açúcar no Brasil”.
(AMARAL, 1958, p. 329).
Na Europa dos fins do
século XVI até os idos do século XVIII, o açúcar estaria em bastante alta.
Bebidas como chá e café começaram a se disseminar pelos países
europeus, bebidas estas trazidas pelos árabes. Logo, como nem todo mundo
gostava de tomar chá ou café puro, preferiam por açúcar ou misturá-lo com
leite. Além disso, o chocolate começava a ser fabricado na Europa, e demandava muito açúcar para adoçar
o gosto amargo do cacau. Lembrando que chocolate foi um artigo
de luxo por muito tempo, e até mesmo o chá e o café só começaram se popularizar
no final do século XVII em alguns países, mas em outros foi a partir do XVIII.
"Após a vulgarização do chocolate, foi o café, cujo se espalhou desde 1650, um dos produtos que mais contribuiu para a expansão do açúcar, sabido como é que o consumo de café obriga ao do açúcar em peso pelo menos igual ao daquele". (SIMONSEN, 1937, p. 173).
"Após a vulgarização do chocolate, foi o café, cujo se espalhou desde 1650, um dos produtos que mais contribuiu para a expansão do açúcar, sabido como é que o consumo de café obriga ao do açúcar em peso pelo menos igual ao daquele". (SIMONSEN, 1937, p. 173).
"Mas o grande
inimigo, agente incansável de Satanás, era o açúcar. Entrando na República em
quantidades adequadas para reduzir suficientemente o fator custo e chegar às
mesas das camadas médias, o açúcar brasileiro alimentava o apetite dos
holandeses por doces - apetite então já sedimentado. Na década de 1640, havia
mais de cinquenta refinarias de açúcar operando em Amsterdã, e petiscos
tradicionais como waffles, panquecas e poffertjes podiam ser complementados com açúcar polvilhado ou caldas caramelizadas.
Bolos e biscoitos que antes não recebiam nenhum tipo de tempero, a não ser um
pouco de mel ou, nas cozinhas ricas, açafrão e anis, agora podiam incluir
pedaços de frutas cristalizadas ou misturas até então inéditas de gengibre
oriental e melaço ocidental". (SCHAMA, 1992, p. 169).
Para termos uma ideia de quanto o açúcar se tornou valioso entre os séculos XVI e XVII, pois no XVIII ele começou a entrar em declínio, darei dois exemplos de fator internacional. O primeiro diz respeito ao fato que em 1580, com a morte do rei de Portugal, D. Henrique I (1512-1580), o trono ficou sem herdeiros, pois o rei era cardeal e não tivera filhos, e seu antecessor que era seu sobrinho, D. Sebastião, morreu jovem e não teve filhos, logo o trono ficou vago e alguns candidatos apareceram para disputá-lo, um deles era o rei de Espanha, Filipe II (1527-1598).
Filipe conseguiu ser eleito rei de Portugal, tornando-se Filipe I de Portugal, passando a ser o rei mais poderoso e rico da Europa e do Ocidente. Filipe possuía as prósperas minas de prata de Potosí no Alto Peru (atual Bolívia) e agora passara a deter a lucrativa produção açucareira do Brasil. Por 60 anos Portugal e suas colônias ficaram sob o domínio espanhol, sendo esse período chamado de União Ibérica (1580-1640).
O segundo exemplo, ocorreou no século XVII, o açúcar se tornaou um bem tão valioso que isso levou os holandeses a criarem a Companhia das Índias Ocidentais (1621) para tratar de negócios nas Américas e na África, e em 1624 eles atacaram a cidade de Salvador, capital do Brasil a fim de tomá-la, embora tenham tido êxito, falharam depois de um ano de ocupação, contudo, eles não desistiram, e retornaram cinco anos depois. De 1630 a 1654, ou seja, por 24 anos, os holandeses ocuparam parte do Nordeste do Brasil, controlando a produção açucareira de Pernambuco, Paraíba, Itamaracá e Rio Grande, os principais produtores desse tão cobiçado "ouro branco".
Para termos uma ideia de quanto o açúcar se tornou valioso entre os séculos XVI e XVII, pois no XVIII ele começou a entrar em declínio, darei dois exemplos de fator internacional. O primeiro diz respeito ao fato que em 1580, com a morte do rei de Portugal, D. Henrique I (1512-1580), o trono ficou sem herdeiros, pois o rei era cardeal e não tivera filhos, e seu antecessor que era seu sobrinho, D. Sebastião, morreu jovem e não teve filhos, logo o trono ficou vago e alguns candidatos apareceram para disputá-lo, um deles era o rei de Espanha, Filipe II (1527-1598).
Filipe conseguiu ser eleito rei de Portugal, tornando-se Filipe I de Portugal, passando a ser o rei mais poderoso e rico da Europa e do Ocidente. Filipe possuía as prósperas minas de prata de Potosí no Alto Peru (atual Bolívia) e agora passara a deter a lucrativa produção açucareira do Brasil. Por 60 anos Portugal e suas colônias ficaram sob o domínio espanhol, sendo esse período chamado de União Ibérica (1580-1640).
O segundo exemplo, ocorreou no século XVII, o açúcar se tornaou um bem tão valioso que isso levou os holandeses a criarem a Companhia das Índias Ocidentais (1621) para tratar de negócios nas Américas e na África, e em 1624 eles atacaram a cidade de Salvador, capital do Brasil a fim de tomá-la, embora tenham tido êxito, falharam depois de um ano de ocupação, contudo, eles não desistiram, e retornaram cinco anos depois. De 1630 a 1654, ou seja, por 24 anos, os holandeses ocuparam parte do Nordeste do Brasil, controlando a produção açucareira de Pernambuco, Paraíba, Itamaracá e Rio Grande, os principais produtores desse tão cobiçado "ouro branco".
O canavial e a
escravidão:
Até aqui vimos a trajetória da cana-de-açúcar em se cruzar metade do mundo até chegar ao Brasil, como esse produto estava em evidência na Europa moderna, daí ser tão requerido e lucrativo; como os fatores naturais e geográficos favoreceram o desenvolvimento da cana, impulsionados por uma política econômica monocultora (chamada de plantation pelos ingleses), onde se visava grandes latifúndios com mão de obra escrava. Contudo, como veremos adiante, nem todos os canaviais eram grandes latifúndios, havia pequenas e médias propriedades que plantavam cana, e as levavam aos engenhos para serem moídas. Havia uma relação entre esse pequenos e médios produtores com os senhores de engenho, algo que normalmente não é dito nas escolas.
Até aqui vimos a trajetória da cana-de-açúcar em se cruzar metade do mundo até chegar ao Brasil, como esse produto estava em evidência na Europa moderna, daí ser tão requerido e lucrativo; como os fatores naturais e geográficos favoreceram o desenvolvimento da cana, impulsionados por uma política econômica monocultora (chamada de plantation pelos ingleses), onde se visava grandes latifúndios com mão de obra escrava. Contudo, como veremos adiante, nem todos os canaviais eram grandes latifúndios, havia pequenas e médias propriedades que plantavam cana, e as levavam aos engenhos para serem moídas. Havia uma relação entre esse pequenos e médios produtores com os senhores de engenho, algo que normalmente não é dito nas escolas.
"As doações
foram em regra muito grandes, medindo-se os lotes por muitas léguas. O que é
compreensível: sobravam as terras, e as ambições daqueles pioneiros recrutados
a tanto custo, não se contentariam evidentemente com propriedades pequenas; não
era a posição de modestos camponeses que aspiravam no novo mundo, mas de
grandes senhores e latifundiários. Além disso, e sobretudo por isso, há um
fator material que determina este tipo de propriedade fundiária. A cultura da
cana somente se prestava, economicamente, a grandes plantações. Já para
desbravar convenientemente o terreno (tarefa custosa neste meio tropical e
virgem tão hostil ao homem) tornava-se necessário o esforço reunido de muitos
trabalhadores; não era empresa para pequenos proprietários isolados. Isto
feito, a plantação, a colheita e o transporte do produto até os engenhos onde
se preparava o açúcar, só se tomava rendoso quando realizado em grandes volumes.
Nestas condições, o pequeno produtor não podia subsistir". (PRADO JR,
1981, p. 19).
Prado Jr [1981] e Furtado [2005] apontaram que o trabalho assalariado nesses latifúndios não era uma condição econômica viável por alguns fatores: primeiro, a população portuguesa era pequena, e boa parte da qual poderia atuar na agricultura tinha que permanecer na metrópole, ou se encontrava nas ilhas, ou estava de serviço no comércio com a África e a Ásia; segundo, seria necessário contratar trabalhadores de outros países, porém os salários teriam que ser muito bons para convencer um agricultor deixar sua terra, e mudar-se com sua família para o outro lado do oceano, para uma região considera "selvagem" pelos europeus; terceiro, a grande quantidade de mão-de-obra necessária somada aos custos da viagem, dos salários, levaria a inviabilidade do projeto, pois se construir um engenho era algo bastante caro na época. Quarto, os colonos que iam para o Brasil, iam em busca de enriquecimento e glória, para assim retornarem para seus países. Logo, a solução final e a mais viável foi apelar para o uso da escravidão. Para se trabalhar nestes latifúndios os portugueses inicialmente escravizaram os índios, mas estes percebendo a verdadeira intenção dos portugueses começaram a se rebelar. Os chamados "mansos", acabaram aceitando trabalhar para os europeus, mas em outros afazeres; já os mais arredios preferiram fugir para as matas, retornando para suas aldeias, e passaram a combater os portugueses. Além disso, houve o fato de que as ordens religiosas começaram a intervir no governo protestando contra o uso de índios nos canaviais, alegando que eles deveriam ser catequizados e usados em outros afazeres.
Prado Jr [1981] e Furtado [2005] apontaram que o trabalho assalariado nesses latifúndios não era uma condição econômica viável por alguns fatores: primeiro, a população portuguesa era pequena, e boa parte da qual poderia atuar na agricultura tinha que permanecer na metrópole, ou se encontrava nas ilhas, ou estava de serviço no comércio com a África e a Ásia; segundo, seria necessário contratar trabalhadores de outros países, porém os salários teriam que ser muito bons para convencer um agricultor deixar sua terra, e mudar-se com sua família para o outro lado do oceano, para uma região considera "selvagem" pelos europeus; terceiro, a grande quantidade de mão-de-obra necessária somada aos custos da viagem, dos salários, levaria a inviabilidade do projeto, pois se construir um engenho era algo bastante caro na época. Quarto, os colonos que iam para o Brasil, iam em busca de enriquecimento e glória, para assim retornarem para seus países. Logo, a solução final e a mais viável foi apelar para o uso da escravidão. Para se trabalhar nestes latifúndios os portugueses inicialmente escravizaram os índios, mas estes percebendo a verdadeira intenção dos portugueses começaram a se rebelar. Os chamados "mansos", acabaram aceitando trabalhar para os europeus, mas em outros afazeres; já os mais arredios preferiram fugir para as matas, retornando para suas aldeias, e passaram a combater os portugueses. Além disso, houve o fato de que as ordens religiosas começaram a intervir no governo protestando contra o uso de índios nos canaviais, alegando que eles deveriam ser catequizados e usados em outros afazeres.
A escravidão indígena no Brasil perdurou até o século XIX, onde centenas milhares de indígenas foram mortos. Como os índios começaram a ficar contrários ao trabalho forçado na lavoura, e além disso, não possuíam experiência com aquele tipo de trabalho, a solução foi trazer escravos da África.
"Em primeiro lugar, à medida que afluíam mais colonos, e portanto
as solicitações de trabalho, ia decrescendo o interesse dos índios pelos
insignificantes objetos com que eram dantes pagos pelo serviço. Tornam-se aos
poucos mais exigentes, e a margem de lucro do negócio ia diminuindo em
proporção. Chegou-se a entregar-lhes armas, inclusive de fogo, o que foi
rigorosamente proibido, por motivos que se compreendem. Além disto, se o índio,
por natureza nômade, se dera mais ou menos bem com o trabalho esporádico e
livre da extração do pau-brasil, já não acontecia o mesmo com a disciplina, o
método e os rigores de uma atividade organizada e sedentária como a
agricultura. Aos poucos foi-se tornando necessário forçá-lo ao trabalho, manter
vigilância estreita sobre ele e impedir sua fuga e abandono da tarefa em que
estava ocupado. Daí para a escravidão pura e simples foi apenas um passo. Não
eram passados ainda 30 anos do início da ocupação efetiva do Brasil e do estabelecimento
da agricultura, e já a escravidão dos índios se generalizara e instituíra
firmemente em toda parte". (PRADO JR, 1981, p. 21).
Os africanos já tinham maior experiência com as plantações, a criação de
animais, e além disso, o sistema de escravidão no continente era mais
desenvolvido do que entre os indígenas do Brasil. Outro fator era que os
portugueses já vinham usando africanos nos canaviais em Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, e até na Madeira e nos Açores, não obstante, o contato entre Portugal
e algumas nações africanas como o Kongo, já possuía algumas décadas
de relação, logo, não foi difícil para os portugueses arranjarem escravos em
África, pois a escravidão já era praticada, e já se tinha ciência dela, embora
o trato com o escravo fosse diferente entre os povos africanos; a escravidão
imposta pelos europeus, se tornou mais abusiva e agressiva. Contudo, embora
houvesse abundância em se conseguir cativos em África, o transporte destes
homens e mulheres não era fácil, e tornava a viagem dispendiosa, perigosa, e
somando-se tudo isso, no final, o preço de um escravo aumentava muito.
Dependendo da idade, do porte físico, da aparência e da localidade, o valor dos
escravos variava.
"O processo de substituição do índio pelo negro prolongar-se-á até
o fim da era colonial. Far-se-á rapidamente em algumas regiões: Pernambuco,
Bahia. Noutras será muito lento, e mesmo imperceptível em certas zonas mais
pobres, como no Extremo-Norte (Amazônia), e até o séc. XIX em São Paulo. Contra
o escravo negro havia um argumento muito forte: seu custo. Não tanto pelo preço
pago na África; mas em conseqüência da grande mortandade a bordo dos navios que
faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de forma a haver um máximo de
aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de confinamento e as piores
condições higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançavam seu destino.
Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil; e destes,
muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi assim sempre muito
elevado, e somente as regiões mais ricas e florescentes podiam
suportá-lo". (PRADO JR, 1981, p. 23).
Assim como os índios se rebelaram contra a escravidão, os africanos também fizeram o mesmo. Os quilombos e mocambos, além de algumas revoltas e rebeliões, foram a resposta destes homens e mulheres a abusiva e nefasta escravidão imposta pelos europeus modernos. Contudo, os escravos africanos se tornaram a solução para a demanda de mão-de-obra na colônia. Logo, a escravidão africana e indígena se tornaram o sustentáculo da economia colonial por quatro séculos. Pois temos que pensar que em terras longe dos principais portos onde se chegava os escravos africanos, o acesso a estes era difícil, logo, a opção era usar os índios como escravos. Na Capitania de São Vicente (atualmente o estado de São Paulo), a escravidão indígena foi superior a africana.
Assim como os índios se rebelaram contra a escravidão, os africanos também fizeram o mesmo. Os quilombos e mocambos, além de algumas revoltas e rebeliões, foram a resposta destes homens e mulheres a abusiva e nefasta escravidão imposta pelos europeus modernos. Contudo, os escravos africanos se tornaram a solução para a demanda de mão-de-obra na colônia. Logo, a escravidão africana e indígena se tornaram o sustentáculo da economia colonial por quatro séculos. Pois temos que pensar que em terras longe dos principais portos onde se chegava os escravos africanos, o acesso a estes era difícil, logo, a opção era usar os índios como escravos. Na Capitania de São Vicente (atualmente o estado de São Paulo), a escravidão indígena foi superior a africana.
Os tipos de engenho:
Neste caso refiro-me a tipo ao se tratar o quesito da força motriz usada para girar as engrenagens das moendas, as quais esmagam a cana, e dela jorra o chamado caldo de cana, o qual por sua vez consiste na matéria-prima para o fabrico do açúcar, de aguardente e de rapadura (tipo de doce), embora o caldo de cana possa ser consumido puro. Basicamente os portugueses usaram três tipos de engenho ao longo da história colonial brasileira, pois o terceiro tipo foi só incluído no Brasil, no século XIX, na época do Império do Brasil.
Neste caso refiro-me a tipo ao se tratar o quesito da força motriz usada para girar as engrenagens das moendas, as quais esmagam a cana, e dela jorra o chamado caldo de cana, o qual por sua vez consiste na matéria-prima para o fabrico do açúcar, de aguardente e de rapadura (tipo de doce), embora o caldo de cana possa ser consumido puro. Basicamente os portugueses usaram três tipos de engenho ao longo da história colonial brasileira, pois o terceiro tipo foi só incluído no Brasil, no século XIX, na época do Império do Brasil.
·
Alçaprensa ou alçaprema: engenho movido a força humana. Geralmente usado nas chamadas engenhocas
(pequenos engenhos), os quais fabricavam rapadura ou aguardente para consumo
interno. Poderiam também fabricar pequenas quantidade de açúcar para uso
caseiro.
·
Almanjarra, trapiche, molinote, atafona ou de
bois: engenho movido pela força de animais,
geralmente bois, mas havia casos que se usava cavalos.
·
Água ou real: engenho movido pela
força da água, usando-se uma roda d'água. Foram considerados os mais
eficientes, por longos séculos.
·
Banguê: engenho movido a
vapor. Começou a ser usado a partir do século XIX. O termo também foi usado
anteriormente para se referir a engenhos que produziam garapa.
·
Entrosa: pequeno engenho
movido por três paus. Usava-se também a força humana.
·
Gangorra: pequeno engenho de
madeira manual com dois cilindros. Usava-se também a força humana.
·
Fogo-morto: termo usado para se
referir a um engenho inoperante.
É importante ressalvar que as palavras, almanjarra, trapiche e banguê
possuem outros significados, daí serem escritas como: engenho de trapiche,
engenho de almanjarra ou engenho-banguê, como forma de referir-se ao uso dessas
palavras com a estrutura dos engenhos de açúcar. Não obstante, dependendo do
lugar, pode-se encontrar outros termos para se referir a força motriz usada nos
engenhos. Aqui fiz uso dos nomes mais comuns usados no Brasil, na Madeira e nos
Açores.
"Quem chamou as oficinas, em que se fabrica o açúcar, engenhos, acertou verdadeiramente no nome. Porque quem quer que as vê, e considera com reflexão, que merecem, é obrigado a confessar, que são uns dos principais partos, e invenções do engenho humano, o qual com pequena porção do Divino, sempre se mostra no seu modo de obrar, admirável. Dos engenhos uns se chamam reais, outros inferiores vulgarmente engenhocas. Os reais ganharam este apelido, por terem todas as partes, de que se compõem, e todas as oficinas perfeitas, cheias de grande número de escravos, com muitos canaviais próprios, e outros obrigados à moenda; e principalmente por terem a realeza de moerem com água, à diferença, de outros, que moem com cavalos e bois, e são menos providos e aparelhados; ou pelo menos com menor perfeição, e largueza, das oficinas necessárias, e com pouco número de escravos, para fazerem como dizem, o engenho moente e corrente”. (ANTONIL, 1711, p. 13-14).
"Quem chamou as oficinas, em que se fabrica o açúcar, engenhos, acertou verdadeiramente no nome. Porque quem quer que as vê, e considera com reflexão, que merecem, é obrigado a confessar, que são uns dos principais partos, e invenções do engenho humano, o qual com pequena porção do Divino, sempre se mostra no seu modo de obrar, admirável. Dos engenhos uns se chamam reais, outros inferiores vulgarmente engenhocas. Os reais ganharam este apelido, por terem todas as partes, de que se compõem, e todas as oficinas perfeitas, cheias de grande número de escravos, com muitos canaviais próprios, e outros obrigados à moenda; e principalmente por terem a realeza de moerem com água, à diferença, de outros, que moem com cavalos e bois, e são menos providos e aparelhados; ou pelo menos com menor perfeição, e largueza, das oficinas necessárias, e com pouco número de escravos, para fazerem como dizem, o engenho moente e corrente”. (ANTONIL, 1711, p. 13-14).
No
caso do Brasil, os engenhos de água
proliferaram devido a grande disponibilidade de rios e riachos, além de também
não haver inicialmente muito gado, embora que o uso de bois requere-se a
existência de pastos mais vastos e currais maiores para mantê-los.
"O lugar de maior perigo que há no engenho é o da moenda, porque se
por desgraça a escrava que mete a cana entre os eixos, ou por força do sono, ou
por cansada, ou por qualquer outro descuido, meteu desatentamente a mão mais
adiante do que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos, se lhe não
cortarem logo a mão ou o braço apanhado, tendo para isso junto da moenda um
facão, ou não forem tão ligeiros em fazer parar a moenda, divertindo com o
pejador a água que fere os cubos da roda, de sorte que deem depressa a quem
padece, de algum modo, o remédio. E este perigo é ainda maior no tempo da
noite, em que se mói igualmente como de dia, posto que se revezem as que metem
a cana por suas equipações, particularmente se as que andam nesta ocupação
forem boçais, ou acostumadas a se emborracharem. (ANTONIL, 1711, p. 54).
Na casa das caldeiras havia vários tachos como já foi dito, passamos
para conhecê-los, pois eles perfaziam etapa por etapa na fervura do caldo de
cana:
1.
Caldeira clarificadora: nos primeiros engenhos misturava-se o caldo com cal, para ajudar a
filtrar as impurezas antes de seguir para a fervura;
2.
Caldeira de caldo: tacho onde se recebia o caldo vindo da casa da moenda;
3.
Caldeira do meio: tacho que se iniciava
a fervura e se retirava a primeira e a segunda espumas, as quais continham
impurezas como pedaços de folhas, caule, bagaço da cana, etc;
4.
Caldeira de melar: continuava-se a fervura e onde se retirava a terceira espuma a qual era
levada para o parol de escuma. Aqui também se fazia a garapa;
5.
Parol de melar: após ser fervido e
ter as espumas retiradas, o caldo era posto aqui para ser coado;
6.
Parol de coar: recebe o caldo para
ser coado. Usa-se o termo temperar também nessa etapa;
7.
Tacha de receber: após ser coado, o caldo era mexido, fervido e decoado (filtrar), onde se
acrescentava água com cinzas para ajudar na filtração das impurezas existentes;
8.
Tacha de porta: após o caldo ter suas espumas
retiradas, ter sido coado e ter sido decoado, o caldo continua a ser fervido;
9.
Tacha de cozer: o caldo continua a
ser fervido e aqui atinge seu "ponto". Consiste na última etapa de
fervura, pois a partir daqui o chamado melaço será posto para iniciar a etapa
de descanso e esfriamento;
10.
Tacha de bater: o melaço é batido com
uma batedeira para atingir o ponto de cristalização, ficando mais consistente e
massudo;
11.
Bacia de repartir: Após ser batido, o melaço era desafogado, termo usado para se
referir ao ato de transferir o melaço da taxa anterior para esta, onde seria
levado para resfriadeira onde iria descansar e esfriar;
12.
Parol de escuma: local que se depositava a espuma
das três espumas para ser reutilizada.
Aqui expus as
principais etapas, mas dependendo da época, notaremos novas etapas e tachos
usados na filtração do caldo, pois o processo foi recebendo novas técnicas ao
longo da História.
Na casa de caldeira
trabalhavam alguns homens livres chamados de caldeireiros, os quais ficavam responsáveis por verificar o "ponto
do açúcar", ou seja, a temperatura
exata de fervura. Antonil [1711] menciona que nessa seção da fabricação do
açúcar a maioria dos trabalhadores eram homens, mas havia uma escrava chamada
de "calcanha" a qual era responsável por limpar o recinto, acender as candeias,
coletar a segunda e a terceira espuma retirada e voltar a colocá-la em um parol
(um tipo de vasilha), pois essa espuma possuía outras utilidades
Além dos tachos, paróis e caldeiras outras ferramentas e recipientes
usados nessa etapa eram:
·
Batedeira: parecido com a escumadeira, mas
sem os furos. Era usado para bater no melaço após este terminar de ser fervido.
·
Caneca: recipiente usado para
passar o caldo de um tacho para o outro.
·
Cinzeiro: tanque quadrangular onde
se misturava água quente com cinzas para ser usado na decoada, na taxa de
receber.
·
Colher: uma grande colher com
furos, usado para mexer o melaço após a fervura.
·
Concha: uma concha de ferro
de cabo longo, usada para se provar o caldo.
·
Escumadeira: tipo de colher com vários furos,
usada para se extrair a espuma.
·
Fôrma: vaso de barro onde se
colocava o melaço para iniciar a purgação.
·
Passadeira: grande colher usada
para transferir o caldo fervente para o tacho seguinte.
·
Picadeira: lança de ferro usada
para se retirar os restos de melado que ficavam grudados nos tachos, paróis e
caldeiras.
·
Pomba ou reminhol: grande colher usada para retirar o melaço da última taxa. Era usado
também para se acrescentar água na decoada.
·
Resfriadeira: tanque onde o melaço descansava e
esfriava para depois ser depositado nas fôrmas.
Tais equipamentos e recipientes foram comumente usados na produção do
açúcar, contudo, quando chegamos ao século XIX já encontramos outros utensílios
e máquinas como centrífugas, filtradores, espumadores, evaporadores, etc.,
usados neste processo, reflexos da Revolução Industrial do século XVIII.
Após a fervura, o
caldo antes inicialmente de coloração verde claro ou amarelada, após ser
fervido ele se torna o que se chama de mel-de-cana, mel-de-engenho, mel-de-furo ou melaço. Uma substância amarronzada rica em sacarose, carboidratos, ferro,
etc. O melaço além de ser usado para fazer açúcar também é usado para se fazer
cachaça, rapadura, rum, caldos, etc.
Funções:
Feitor de moenda: era o responsável por fiscalizar a colheita, o transporte da cana e sua
moedura. Enquanto a cana era moída ele deveria ficar atento para que as
escravas ou escravos não se acidentassem no processo, como também deveria
controlar o processo para evitar que houvesse caldo em demasia, pois poderia
acabar estragando enquanto aguardava iniciar o processo de fervura. Antonil
[1711] falara que o feitor de moenda tinha um salário que variava de quarenta a
cinquenta mil réis ao ano, mas vale lembrar que isso era um salário do início
do século XVIII, não significa que o salário fosse o mesmo ao longo do
tempo.
·
Feitor ou capataz: era responsável por vigiar e punir os escravos, assim como proteger a
fazenda, os canaviais e os roçados e manter o controle dos escravos, evitando
que brigassem, fugissem, ou ficassem ociosos.
·
Mestre de açúcar: era o responsável por verificar a
qualidade do solo e a localização para o plantio da cana, devia
saber distinguir onde se brotava cana de melhor qualidade e de
menor qualidade, pois dependendo do solo e da quantidade de água recebida havia
variações. Na casa das caldeiras, era o responsável por manter todos os
funcionários trabalhando adequadamente, e manter um controle de qualidade, pois
as vezes o caldo teria que ser fervido por mais tempo, ou ser coado ou decoado
novamente. Na casa de purgar também era responsável por avaliar o trabalho dos
escravos e empregados nesse setor. Em suma, o mestre de açúcar controlava a
administração do fabrico do açúcar. Nos grandes engenhos Antonil [1711] fala
que o salário do mestre de açúcar era em torno de 130 mil réis ao ano, mas
podia ficar na casa dos 100 mil réis ao ano.
·
Banqueiro ou soto-mestre: era um dos ajudantes do mestre de açúcar. Quando esse se ausentava, era
o banqueiro o responsável por manter o controle e a eficiência na produção de
açúcar na casa das caldeiras. Sua responsabilidade era bastante grande. O banqueiro substituía o
mestre de açúcar pelo turno da noite, e era auxiliado pelo ajuda-banqueiro
ou soto-banqueiro. O banqueiro podia receber entre 30 a 40 mil réis ao
ano.
·
Ajuda-banqueiro ou soto-banqueiro: era o ajudante do banqueiro, possuía também uma
grande responsabilidade no processo de fabricação, pois teria que se
manter atento todo tempo para evitar atrasos, perda de matéria-prima e
acidentes. Antonil nos fala que tais cargos eram ocupados necessariamente não
por gente livre, mas poderiam ser ocupados por algum escravo ou mestiço. Ele
também era responsável por supervisionar o envio dos pães de açúcar para a casa
de purgar. No caso do empregado ser um escravo ou um mestiço que também sofria
com status de ser um escravo, mesmo tendo uma mãe ou pai branco, eles as vezes
não recebiam salário, mas recebiam alguma espécie de recompensa.
·
Caldeireiro e tacheiro: trabalhavam nas caldeiras e tachos cuidando em se controlar a
temperatura de fervura e o processo de purificação do caldo. Eram responsáveis
por ver o "ponto", temperatura exata na qual o caldo estaria bem
fervido.
·
Purgador: trabalhava na purificação do
açúcar na casa de purgar. Era o responsável por verificar como seguia o
processo de purgação do açúcar nos dias que ele residia no recinto. Também
tinha que verificar a qualidade do barro ou argila que seria usado no processo
de purgação, auxiliava na organização dos pães nos andaimes. Deveria zelar pela
organização e limpeza do recinto e ordenar a coleta do melaço nos jarros para
ser armazenado ou reutilizado. Antonil conta que o salário de purgador variava
de acordo com a quantidade da produção. Se se produzissem 4 mil pães numa leva,
ele receberia 50 mil réis anualmente, mas se a produção fosse menor, receberia
de forma proporcional.
·
Caixeiro de engenho: era o responsável por pesar o açúcar antes deste ser encaixotado e
marcado. Também cuidava de separar e contabilizar a produção do senhor de
engenho, dos lavradores e de repassar o dízimo para a Igreja. Também eram
incumbido de supervisionar o carregamento do açúcar nas caixas, e até mesmo
auxiliar no carregamento, verificava se todas as caixas foram devidamente
marcadas, e até mesmo supervisionava o transporte até o porto, como verificar o
embarque do produto. Antonil falara que dependendo do tamanho do engenho e da
sua produção, o caixeiro poderia receber de 30 a 50 mil réis por ano.
·
Caixeiro da cidade: diferenciava-se do caixeiro de engenho, pois atuava mais como um
contador, contratador, procurador e depositário, cuidando das finanças do engenho,
das negociações, da contratação dos navios, da contratação dos compradores,
etc. Recebia um salário anual em torno de 40 a 50 mil réis.
Tipos de açúcar:
Já foi mencionado aqui que havia alguns tipos de açúcar, pois quando se
dividia as "caras" do pão-de-açúcar, cada "cara" possuía
uma qualidade diferente, e além disso, o próprio açúcar mascavo também possuía
seus tipos. Existem distintas nomenclaturas para tratar dessa tipologia
sacarina, contudo, exporei aqui os termos usados pelos portugueses, pois os
espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses, etc., usam outras
terminologias.
1) Açúcar branco: Embora seja parecido com o atual açúcar que normalmente usamos, na Idade Moderna havia algumas diferenças. Antonil [1711] dizia que o açúcar branco possuía algumas classificações referentes a sua qualidade:
1) Açúcar branco: Embora seja parecido com o atual açúcar que normalmente usamos, na Idade Moderna havia algumas diferenças. Antonil [1711] dizia que o açúcar branco possuía algumas classificações referentes a sua qualidade:
·
Fino: era o mais branco,
fechado e pesado, provinha da primeira "cara" do pão-de-açúcar. Era
considerado o de melhor qualidade.
·
Redondo: era menos fechado e
pesado, provinha normalmente da segunda "cara", e era considerado de
segunda qualidade.
·
Baixo: era de uma cor
amarronzada, provinha da terceira "cara", embora a cor, ainda era
considerado de qualidade relativa, mas inferior.
·
Branco batido: era feito a partir do
melaço escorrido durante a fase de purgação, onde tal melaço era cozido
novamente e era batido. Antonil diz que as vezes ele se tornava branco e
bem encorpado, daí ser chamado de "branco batido".
O açúcar branco do tipo fino, redondo e baixo eram chamados de açúcar macho, pois eram bem purgados, puros e de excelente qualidade.
2) Açúcar mascavo: era chamado também de mascavado, pés e cabucho. Era considerado de menor qualidade se comparado com o açúcar branco. O açúcar mascavo como vimos é de coloração amarronzada, possui uma maior quantidade de melaço, não é bem purgado e nem refinado. Era usado no preparo de alimentos, e até na fabricação de rapadura, garapa, cachaça, rum, etc.
2) Açúcar mascavo: era chamado também de mascavado, pés e cabucho. Era considerado de menor qualidade se comparado com o açúcar branco. O açúcar mascavo como vimos é de coloração amarronzada, possui uma maior quantidade de melaço, não é bem purgado e nem refinado. Era usado no preparo de alimentos, e até na fabricação de rapadura, garapa, cachaça, rum, etc.
·
Macho: resultante das sobras do açúcar
macho. Quando o açúcar era retirado da forma, ele tinha a sua crosta raspada, o
que lhe separava do açúcar branco, e essa crosta era o açúcar mascavo.
·
Batido: resultante das sobras
do açúcar branco batido.
·
Mel: açúcar mascavo feito
do mel da purga. Era usado também para fazer o mascavo batido ou para se fazer
garapa e cachaça.
·
Remel: resultante do mel da
purga do batido branco. Se fosse batido poderia virar mascavo batido, e também
era usado para se fazer garapa e cachaça.
3) Açúcar de escuma: era feito a partir das espumas
resultantes da fase de fervura do caldo. Era de coloração escura, usado para
fazer garapa, como também dado de alimento para os escravos e os animais.
·
Neta: feito com a primeira
espuma.
·
Rescuma: feito com a segunda
espuma.
·
Nata: feito com a terceira espuma. Era
batido e cristalizado.
4) Açúcar por região: Gaspar Barléu
escrevendo no século XVII assinalou que dependendo do lugar de onde vinha o
açúcar esse recebia certos nomes. Aqui temos um outro tipo de
nomenclatura.
·
Madeira: proveniente da ilha da Madeira.
·
Canárias: proveniente das Canárias,
arquipélago de posse dos espanhóis.
·
Meli: proveniente de uma pequena ilha
na costa ocidental da Índia, sob o controle dos portugueses.
·
São Tomé: proveniente da ilha de São Tomé,
possessão portuguesa na África. Barléu nos conta que esse açúcar era de qualidade
inferior, e era usado para se fazer xaropes, conservas, remédios, etc.
·
Antilhas: proveniente das
Antilhas no mar do Caribe. Nesse caso, era produzido pelos espanhóis,
holandeses ou franceses, dependia de que ilha provinha.
·
Açores: proveniente dos Açores.
·
Cabo Verde: proveniente do Cabo
Verde.
Havia outro lugares, mas mencionEI estes mais importantes. Contudo, não
se encontra a nomenclatura de açúcar brasileiro ou Brasil nos livros que usei
para fazer este texto.
5) Outros tipos de açúcar:
·
Misturado: era formado a partir
da mistura de diferentes açúcares que eram transportados em caixas de forma
inadequada.
·
Panela: o caldado que
escorria no processo de fervura era coletado em panelas e não era purgado. Era
de baixa qualidade e de coloração escura. Por ser vendido em panelas recebeu
esse nome.
·
Cândi ou cande: açúcar branco
refinado e cristalizado, usado para adoçar bebidas, alimentos e preparar
medicamentos.
Aqui apresentei alguns tipos de açúcar e suas nomenclaturas usadas entre
os séculos XV e XVIII, já nos séculos XIX e XX vemos novas nomenclaturas, mas
como o foco aqui é tratar da produção açucareira no período colonial
brasileiro, me reterei a estes exemplos.
Material Extra
VIDEOS
1 - Ciclo da cana-de-açúcar
2 - De onde vem o açúcar ?
3 - Processo Moderno de produção
4 - Processo artesanal (açúcar mascavo)
Imagens Modelo
Um comentário:
excelente LAVORO!
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