02/09/2014

Revolução Puritana








A Revolução Puritana foi um conflito ocorrido na Inglaterra na década de 1640 entre a monarquia e o parlamento. Carlos I, rei do país, não aceitava a intervenção política dos parlamentares e, de forma autoritária, governava movido por seus interesses.
As divergências políticas se iniciaram quando Carlos I assumiu o reinado após a morte de seu pai, Jaime I, em 1625. Sua dinastia era responsável por uma série de mudanças políticas na Inglaterra. Jaime I acabou com as medidas liberais dos Tudor e se aliou à Igreja Católica para fortalecer a ideologia conservadora.
Naquela época, a Irlanda tinha uma economia dependente dos ingleses, que mantinham um sistema feudal absolutamente elitizado. No poder, Carlos I queria aumentar a taxa dos impostos, mas dependia de uma aprovação do Parlamento.
Os parlamentares exigiram uma petição relacionada aos problemas com impostos, prisões, julgamentos e convocações do exército. Revoltado, o rei acatou as medidas, mas ordenou o fechamento imediato do Parlamento, que perdeu seu direito de intervenção política por mais de 10 anos.
Com a implementação de mais tributos, a burguesia se viu prejudicada e acabou gerando uma crise financeira ao não pagar os altos impostos cobrados pelo rei.
Tal fato acabou dividindo os parlamentares em duas facções:
  • Diggers: liberais que defendiam a reforma agrária do país e uma distribuição de terras mais igualitária para o desenvolvimento da atividade agrícola.
  • Levellers: mais conservadores, defendiam o direito de praticar a religião (católica) de forma livre, além de serem adeptos à igualdade jurídica.
O fortalecimento econômico da burguesia foi apoiado pela dinastia Tudor, cimentando a autoridade real em uma atuação conjunta ao parlamento, em que eram representadas politicamente a burguesia e a nobreza. Porém, com a sucessão dinástica de Elisabeth I, entrando em seu lugar a dinastia Stuart, alterou-se a situação política no reino.

Seu sucessor Jaime I e o filho deste, Carlos I, iriam buscar fortalecer novamente o poder régio e da nobreza mais tradicional, ligada aos preceitos medievais, principalmente com a adoção de medidas que passavam por cima dos interesses do Parlamento. Eles eram ainda escoceses, e não ingleses, o que intensificou a oposição à permanência deles no poder. Por serem rigorosos anglicanos, perseguiram os puritanos calvinistas, ampliando a insatisfação com seu governo.

O ápice da insatisfação veio com o reinado de Carlos I. Sendo obrigado a assinar a “Petição dos Direitos”, em 1628, que protegia a população contra tributos e detenções ilegais, em troca da ampliação de impostos de seu interesse, Carlos I dissolveu o Parlamento em 1629. Passou a governar de forma autocrática, reconvocando o Parlamento novamente em 1640 para conseguir recursos para debelar uma rebelião na Escócia.

Entretanto, o Parlamento tentou novamente limitar o poder régio, tendo como resposta de Carlos I uma nova tentativa de dissolução. O resultado dessas ações foi o deflagrar de uma violenta guerra civil e da Revolução Puritana.

É interessante notar que as disputas religiosas interligaram-se umbilicalmente à luta política, perceptível inclusive com o próprio nome dado à Revolução.

Os preceitos religiosos e o controle da Igreja Anglicana na vida cotidiana garantiam o controle da ordem político-social inglesa. Mesmo com a ruptura com a Igreja Católica no reinado de Henrique VIII, a Igreja Anglicana mantinha-se mais próxima do catolicismo e da ideologia da Idade Média. Por outro lado, o puritanismo – o calvinismo inglês – era uma expressão ideológica da burguesia, principalmente pelo fato de ligar a salvação da alma às ações econômicas realizadas na Terra, bem como a uma religiosidade mais individualizada, sem a interferência institucional da Igreja.

Nesse sentido, a guerra civil opôs, grosso modo, os membros da alta nobreza aristocrática inglesa, funcionários do Estado e o clero, em sua maior parte anglicano, contra os agricultores capitalistas, a burguesia urbana, os pequenos mercadores e artesãos, que professavam crenças protestantes como o puritanismo e o presbiterianismo.

No aspecto militar, a divisão ocorreu entre os Cavaleiros, partidários de Carlos I e apoiados por latifundiários, católicos e protestantes; e os Cabeças Redondas (rounheads), os defensores do Parlamento. O nome adotado remetia ao corte de cabelo adotado, curto e de forma arredondada, diferenciando dos longos cabelos dos membros da corte.
Além do corte de cabelo, uma diferença mais substancial foi que o exército dos Cabeças Redondas, conhecido como Exército de Novo Tipo, baseava-se em promoções internas por mérito, e não por sangue, além de permitir debates sobre os motivos da guerra, o que garantia aos soldados uma consciência política de suas ações. Essa diferença foi substancial para a derrota dos Cavaleiros nas batalhas de Marston Moor (1644) e Naseby (1645).

A primeira fase da guerra terminou em 1646, com a derrota de Carlos I. Mas o receio da posição radical democrática dos Cabeças Redondas levou parlamentares moderados a tentarem um acordo com a realeza. O resultado foi uma radicalização ainda maior da revolução. Em 1647, Carlos I foi preso pelos soldados. O rei ainda fugiu da prisão e tentou reorganizar uma reação. Porém, foi novamente derrotado por Cromwell e outros chefes das tropas parlamentares. Os radicais conseguiram a hegemonia na Câmara dos Comuns, expulsando os moderados. Em 1649, Carlos I foi julgado e executado. Sua decapitação foi a primeira de um monarca por ordem de um Parlamento.

Após Carlos I perder a cabeça, uma República foi instaurada na Inglaterra, formando-se um Conselho de Estado e extinguindo-se a Câmara dos Lordes. Oliver Cromwell ainda debelou as últimas reações dos realistas, pondo fim à guerra civil em 1651. Uma das principais medidas de Cromwell no governo foram os Atos de Navegação, que garantiam proteção aos comerciantes ingleses no comércio britânico, excluindo a ação holandesa no setor, que constituía até então a maioria.

Mas a oposição política a Cromwell intensificou-se. Frente a isso, o líder revolucionário dissolveu o Parlamento em 1653, criando uma ditadura pessoal e se autointitulando Lorde Protetor da República. Sua ditadura durou até 1658, ano de sua morte. Foi substituído pelo filho, Richard Cromwell, que não conseguiu manter a existência da República. Os nobres realistas organizaram uma contrarrevolução, colocando Carlos II no trono, acabando com a República e realizando a Restauração Monárquica.

Era o fim da República Puritana. Entretanto, as transformações sociais que ela representava não permitiram que a Restauração Monárquica durasse muito tempo. Com a Revolução Gloriosa de 1688, completava-se o ciclo da revolução burguesa na Inglaterra, instaurando uma monarquia constitucional de caráter liberal, que garantiria as condições gerais para o desenvolvimento do capitalismo.




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