08/11/2012

O oriente fantástico dos viajantes




Um dos mais populares  textos dofim da Idade Média foi um relato de viagem  ao Oriente  em que o personagem eera um cavaleiro inglês, Jean de Mandeville, morto em Liége em1372. Mas será que o autor realmente saiu da Europa algum dia ? Não se sabe ao certo.
Aos nossos olhos a narrativa de Jean de Mandeville é apenas um apanhadode invenções caluniosas que fazem referência a povos fabulosos: os cinocéfalos, homems com cabeça de cachorro que latem em vez de falar; homens sem cabeça cujo rosto aparece no peito; pessoas que se alimentam do cheiro de frutas... entre muitos outros. Os mais divertidos são sem dúvida os homens "cujo lábio inferior é tão grande que, quando querem dormir ao sol, cobrem o rosto com esse lábio inferior".
Jean de Mandeville não foi o inventor desses seres monstruosos. Se seus relatos tiveram tamanho sucesso, foi justamente porque confirmavam crenças sólidas do Ocidente sobre o Extremo Oriente, e em particular sobre a India, terra de todas as maravilhas.

No século V antes da era cristã, o historiador Heródoto e o médico Ctésias de Cnido foram os primeiros a mencionar formigas caçadoras de ouro, escorpiões alados, homens com pernas de aranha ou com orelhas em que se embrulhavam para dormir. Eram interpretações de figuras da mitologia hindu. Relatos assim apareceram mais tarde, no século I d.C., por meio de Plínio, o Moço, orador e politico cuja obra, História Natural, foi uma fonte utilizada por intelectuais medievais como Isidoro de Sevilha, no século VII e Raban Maur, no século IX - além de sucessores que os copiavam. Nessas obras, encontram-se a nomenclatura "raça" monstruosas, humanas ou animais, criações herdadas dos gregos.
Nos últimos séculos da Idade Média, as raças monstruosas faziam parte da cultura dos letrados. Eram encontradas principalmente nos mapas inspirados nos modelos antigos, como o famoso mapa-mundi de Hereford, da virada do século XIII para o XIV:

 

Nele, a Índia e a Etiópia eram representadas  por homens sem boca ou sem cabeça, com longas orelhas, e ainda sátiros, faunos, unicórnios...
A palavra latina monstrum é aplicada a seres ou objetos que anunciam a vontade dos deuses. Etimologicamente, aproxima-se de ‘monstro, -as, -are’, que significa mostrar, indicar. Com esse sentido Isidoro a registra no terceiro capítulo do livro XI de seu livro de Etimologias. O monstro é a criatura que mostra e, assim como o portento e o prodígio, expõe um sinal ou aviso. É uma figura de advertência. Seu exagero, tamanho ou estranheza garantem um senso de urgência a sua interpretação. O monstro é um sinal divino que não deve ser ignorado. A vontade divina ou suas indicações são mais claras quando apresentadas em forma monstruosa.
Os pregadores e conselheiros medievais, recorriam aos monstros para representar as características humanas: os gigantes representavam o orgulho, os pigmeus simbolizavam a humildade, e os homens com cabeça de fera (cachorro por exemplo) alegorias da discórdia.



A) Chest le livre de toutes les keures de la Vile dâypre. Sec. XIV.
A Trindade está representada por uma personagem com pernas longas e peludas, tendo na mão uma adaga e na outra um objeto redondo que parece um pequeno escudo. Sobre um pescoço desmesurado, vai-se reunidas três cabeças sob uma mesma coroa. As faces se dispõem de forma que os dois olhos da figura são vistos de perfil e um frontal. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 65, fig. 53.

B) Bible du Musue Britannique Bibliographica. Londres, 1900, part VII, p.394.
Monge com cara de papagaio exercendo sua eloquência diante de um bispo com o rosto de macaco que o abençoa, enquanto que ao redor deles estãoo seres bizarros representando, talvez, suas ovelhas. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 141, fig. 117.

C) A figura está contida no manuscrito de Ypres intitulado"o livro de todas as coisas da vila de Ypres". Faz forte referência a  religiosidade da região. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 146, fig. 121.

D) Na figura vemos uma ave portando sua família dentro de um cesto pendurado nas costas e seguido por uma forma monstruosa constituída de elementos bizarros e fantásticos. Manuscrit n.103 de la Bibliotèque de Cambrai. MAETERLINCK, L. Le Genre Satirique dans la Peinture Flamande. Gand: 1903, p. 75, fig. 69.


Sereia
A figura da sereia tanto pode se associar ao conceito da salvação e da redenção, como às forças maléficas do pecado. Há, por exemplo, duas categorias de representações das sereias: a sereia-peixe e a sereia-pássaro. A primeira, com a aparência física de um ser meio homem meio peixe, representavam divindades marítimas (resgatadas do folclore escandinavo). A sereia-pássaro, com a cabeça humana (com feições masculinas ou femininas) e corpo de pássaro, representava a alma condenada dos mortos; que, com seu canto sedutor, levava os navegantes ao naufrágio.
Dragão
O dragão é um animal fantástico que tem presença constante na cultura medieval. Porém, sua origem remonta à antiguidade de várias culturas. É possível que a "imagem" do dragão, uma serpente ou réptil alado e de proporções gigantescas, tenha sido idealizada a partir de fósseis de dinossauros.
Na Idade Média, principalmente por influência das citações bíblicas, o dragão foi associado a aspectos maléficos (como a serpente), sempre como um inimigo mortal e poderoso. Uma célebre representação é a de São Jorge, montado à cavalo, ferindo um dragão com sua lança; numa clara alusão da vitória do bem (cristianismo) sobre o mal (o dragão pagão). Ainda, o Dragão figura freqüentemente na heráldica medieval.
Grifo
O grifo, animal que possui cabeça e asas de águia e corpo de leão, também é encontrado em brasões. Sua conotação é (geralmente) positiva; pois representa a águia (rainha das aves) e o leão (rei dos animais terrestres). Há uma lenda de que os grifos entraram em combate com os cavalos que tentaram roubar o seu ouro. Assim, há uma grande rivalidade entre grifos e cavalos; fato que levou cavaleiros medievais a utilizar escudos com a imagem de grifos, para desencorajar os cavalos dos inimigos. Há ainda o hipogrifo, que seria o resultado do cruzamento de um grifo com uma égua.
Basilisco
O basilisco é descrito como uma serpente com cabeça de galo que nasce quando um ovo de galinha é chocado por um sapo. Em algumas representações, devido ao tamanho e por estar dotado de patas, é confundido com dragões. O basilisco seria capaz de matar apenas fixando o seu olhar sobre a presa. Segundo as lendas, é responsável por conduzir a alma desencarnada dos condenados ao inferno.
Harpia
A harpia, que na mitologia grega foi enviada para roubar o alimento do rei cego conhecido por Fineu, é mais uma representação com corpo de ave e cabeça e tórax humano (tanto masculino como feminino) e está associada (geralmente) à luxúria e a entrega do homem aos prazeres sexuais.
Centauro
Os centauros são mais uma representação oriunda da mitologia grega. Com o corpo de eqüino e tórax, braços e cabeça humana, representa a brutalidade. Na iconografia cristã, também está associado à lascívia.
Unicórnio
O unicórnio é uma das representações que se atribui significados. Oriundo também da mitologia grega, na Idade Média, estava associado à pureza da virgindade; portanto, é comum encontrá-lo retratado junto a uma dama. Por outro lado, na heráldica, pode representar a nobreza e a virilidade. Ainda, há a lenda de que seu chifre é capaz de neutralizar qualquer veneno e curar todas as doenças.
Leucrota
A leucrota é do tamanho de um eqüino com o traseiro de um veado e peito e patas de um leão, cabeça de cavalo e a mandíbula aberta até altura das as orelhas, com um osso maxilar ao invés dos dentes. Uma de suas habilidades é produzir sons semelhantes à voz humana.
Porco
O porco está associado à gula ou luxúria. Santo Isidoro de Sevilha atestava que "os porcos são imundos porque se revolvem e sujam na terra à procura de alimentos". Na obra Hortus Sanitatis (1485), Jehann von Cube reafirma a associação do porco à luxúria, referindo também à precocidade sexual do animal, que aos oito meses já é capaz de copular.
Aves
De uma forma geral, as aves recebem atribuições positivas; já que as asas simbolizam a capacidade de voar e alcançar o Reino Divino no céu. Também é comum encontrá-las picando as próprias patas, numa alusão ao ato de "despregar-se" da sua natureza terrena. A pomba e a águia são as aves mais comuns nestes contextos.
Leões
Leões estão associados à força e nobreza. É comum encontrá-los nas entradas principais de templos religiosos exercendo a função de guardiões do templo, como se alertassem o observador que aquele local é sagrado e restrito. Na bíblia, pode assumir um caráter positivo (como o leão de Judá, os leões do trono de Salomão ou o leão de São Marcos), como uma imagem negativa, como os leões que Daniel tem de enfrentar.
Touro
O touro, que está presente em diversas culturas da Antiguidade, sempre recebeu atributos positivos por sua força e coragem. Entretanto, durante a solidificação do cristianismo medieval, devido aos chifres e patas, recebeu uma conotação demoníaca.


Se quiserem saber mais a respeito podem acessar o site:


O site é em inglês, mas fácil de traduzir através das ferramentas de tradução do google e similares.

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