"O catolicismo tem sido historicamente a religião majoritária
do Brasil, cabendo a outras fés o lugar de religiões
minoritárias, mas nem por isso sem importância no quadro das religiões e da
cultura, sobretudo no século atual. Neste segundo grupo estão as chamadas
religiões afro-brasileiras, as quais até os anos 1930 poderiam ser incluídas na categoria das religiões
étnicas, religiões de preservação de patrimônios culturais dos antigos escravos
africanos e seus descendentes. Estas
religiões formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e
nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia,
xangô em Pernambuco e Alagoas,
tambor de mina no Maranhão e Pará,
batuque no Rio Grande do Sul
e macumba no Rio de Janeiro.
O quadro religioso no Brasil de hoje caracteriza-se por
processo de conversão complexo e dinâmico, com a incorporação e mesmo criação
de algumas novas religiões, às vezes com a passagem do converso por várias
possibilidades de adesão. Os grupos de
religiões mais importantes em termos de números de seguidores hoje são: o
catolicismo, em suas ambas versões de religião tradicional e renovada; os
evangélicos, que apresentam múltiplas facetas entre históricos e pentecostais,
agora também se oferecendo numa nova e inusitada versão, o neopentecostalismo
(Rolim, 1985; Mariano, 1995); os espíritas kardecistas, e um diverso conjunto de religiões
afro-brasileiras. Entre os católicos
renovados sobressaem-se as Comunidades Eclesiais de Base (Pierucci, 1983) e o
novo Movimento de Renovação Carismática (Prandi, 1991b),
movimentos que se opõem doutrinariamente: as CEBs
mais preocupadas com questões de justiça social e mais envolvidas na política,
os carismáticos mais interessados no indivíduo e conservadoramente avessos a
temas de consciência social. Estimativas recentes indicam a presença de 75% de
católicos (os carismáticos são 4% e os das CEBs, 2%
da população), 13% de evangélicos (3% históricos e 10% pentecostais), 4% de kardecistas e 1,5% de afro-brasileiros (Pierucci &
Prandi, 1995).
Dessas religiões, a umbanda tem sido reiteradamente
identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no
Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas
(Camargo, 1961; Concone, 1987; Ortiz, 1978). Como
religião universal, isto é, dirigida a todos, a umbanda sempre procurou
legitimar-se pelo apagamento de feições herdadas do candomblé, sua matriz
negra, especialmente os traços referidos a modelos de comportamento e
mentalidade que denotam a origem tribal e depois escrava, mantendo contudo
estas marcas na constituição do panteão. Comparado ao do candomblé, seu
processo de iniciação é muito mais simples e menos oneroso e seus rituais
evitam e dispensam sacrifício de sangue.
Os espíritos de caboclos e pretos-velhos manifestam-se nos corpos dos
iniciados durante as cerimônias de transe para dançar e sobretudo orientar e
curar aqueles que procuram por ajuda religiosa para a solução de seus males. A
umbanda absorveu do kardecismo algo de seu apego às virtudes da caridade e do
altruísmo, assim fazendo-se mais ocidental que as demais religiões do espectro
afro-brasileiro, mas nunca completou este processo de ocidentalização, ficando
a meio caminho entre ser religião ética, preocupada com a orientação moral da
conduta, e religião mágica, voltada para a estrita manipulação do mundo.
Desde o início as religiões afro-brasileiras se formaram em
sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto
católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva
ao culto dos panteões africanos (Valente, 1977; S. Ferretti, 1995). Com a
umbanda, acrescentaram-se à vertente africana as contribuições do kardecismo
francês, especialmente a idéia de comunicação com os espíritos dos mortos
através do transe, com a finalidade de se praticar a caridade entre os dois
mundos, pois os mortos devem ajudar os vivos sofredores, assim como os vivos
devem ajudar os mortos a encontrar, sempre pela prática da caridade, o caminho
da paz eterna, segundo a doutrina de Kardec. A umbanda perdeu parte de suas
raízes africanas, mas se espraiou por todas a regiões do País, sem limites de
classe, raça, cor (ver Capítulo II). Mas não interferiu na identidade do
candomblé, do qual se descolou, conquistando sua autonomia. Mas o candomblé também mudou. Até 20 ou 30 anos atrás, o candomblé era
religião de negros e mulatos, confinado sobretudo na Bahia e Pernambuco, e de
reduzidos grupos de descendentes de escravos cristalizados aqui e ali em
distintas regiões do País. No rastro da umbanda, a partir dos anos 1960, o
candomblé passou a se oferecer como religião também para segmentos da população
de origem não-africana."
O QUE SÃO ORIXÁS ? : São as divindades do panteão
Yorubá do Candomblé (um dos grupos étnicos africanos trazidos para o
Brasil com o trafico negreiro, também conhecidos como NAGÔS ou povo
KETO ou KETU), no Brasil são mais conhecidos e popularizados que as
divindades das nações BANTU (Angola) ou MINA e JEJE (costa da Mina ,
Benin e região), são eles : Nanã, Omolú, Oxumarê, Oxalá, Exú, Ogun, Oxóssi, Yemanjá, Iansã, Oxum, Obá ,Ewá, Xangô, Logun Edé, Ossain, Ibeji, Irôko;
na África eram cultuados maios de 200 orixás, no Brasil esse número
reduziu-se a 16, cada Orixá está ligado a uma força da natureza / vida e
a sua energia é chamada de AXÉ .
POR QUE MUITA GENTE CHAMA INDISTINTAMENTE ISSO TUDO DE MACUMBA ?
: Na realidade MACUMBA era o nome de uma flauta rústica utilizada em
festas familiares junto com outros instrumentos como atabaques e
tambores, pela população mais pobre (majoritariamente ex-escravos ou
descedente de escravos ) na época da passagem do Brasil Império para
República ; por tal MACUMBA ou MACUMBINHA era também um sinônimo de
“festa em casa”, porém como havia repressão e muito preconceito contra
as reuniões afroreligiosas (na época feitas nos terreiros das casas ),
ao convidar alguém para uma festa/reunião afroreligiosa as pessoas não
citavam isso em público, apenas convidavam as outras para uma “MACUMBA”
ou “MACUMBINHA” lá em casa… , o que era perfeitamente entendido
dependendo de quem convidava e era convidado…, surgiu dai o entendimento
hoje corrente para MACUMBA e obviamente para MACUMBEIROS; apesar de
serem muito utilizados de forma depreciativa pelos que discriminam as
religiões “afro”, o uso dos termos e auto-denominação entre os adeptos é
comum e encarada por muitos de forma afirmativa (orgulho/
não-vergonha).
AS RELIGIÕES AFRO SÃO SATÂNICAS ?, CULTUAM DEMÔNIOS ?
: Apesar das várias interpretações discordantes sobre o que venha de
fato a ser satanismo e de sua relação com a figura de Satan, Lúcifer ou
Diabo (entre outros nomes) , tudo isso faz parte de uma cosmovisão
ocidental de base judaico-cristã, não tem nada a ver com a cosmovisão
africana (onde não se crê em inferno, muito menos em diabo…), sendo
assim essa “acusação” e “demonização” que se faz das religiões de
matrizes africanas (principalmente do Candomblé que não tem qualquer
base ocidental/cristã) é falsa e injusta, as divindades
africanas cultuadas são basicamente representações das energias da
natureza, energias que influenciam na vida das pessoas e podem ser
“manipuladas” para o bem mas também para o mal, só que isso é uma
questão da ética das pessoas que manipulam ou solicitam manipulação,
não das energias (que em tese são amorais), seria como dizer que a
energia atômica “é do mal” pois pode adoecer e matar, quando na
realidade pode também curar e facilitar a vida…, dependende de quem
manipula e de sua intenção, não da energia em si, “o mal” e “o bem”
está nas pessoas…, algumas vão rezar para “mil cairem à sua direita”,
outras vão matar “em nome de cristo”, algumas vão fazer “trabalho” para
prejudicar algum desafeto , outras vão pedir e usar tudo isso pelo
próprio bem e da humanidade.
Ogum
Forte
e corajoso, é conhecido como orixá da guerra e do fogo. Criou o ferro,
a tecnologia e a metalurgia. Por isso, é padroeiro de todos os que
manejam ferramentas. Seu símbolo é a espada.
É
o Orixá guerreiro. Deus do ferro e da guerra. Seu domínio são as retas
dos caminhos, as lutas e o trabalho. Veste-se de azul escuro, verde ou
vermelho. Traz sempre sua espada pronta para o ataque. Seu dia é
terça-feira e sua saudação é "Ogunhê !" Seus filhos, são pessoas com um
apurado senso de honra e incapazes de perdoar uma ofensa. São
fisicamente muito resistentes, curiosos por natureza, possuem muita
capacidade de concentração e perseguem seus objetivos com derterminação.
Oxossi
Orixá da mata e caçador, garante o alimento de todos os outros deuses. É considerado o guardião da agricultura e da natureza.
Orixá
caçador, protetor das matas, dos animais da floresta e dos caçadores.
Veste-se de verde, azul turquesa e vermelho. Traz sempre o seu Ofá
(arco e flexa). Seu dia é a Quinta-feira e sua saudação é "Okê Arô
Oxossi !" Seus filhos, são pessoas muito exigentes no cumprimento das
obrigações, de atitudes firmes e até um pouco duras. Não têm "papas na
língua" e costumam falar tudo o que pensam. Dão muito valor aos acordos e
não faltam com sua palavra. Com tendência à timidez, não gostam de
demonstrar suas emoções.
Ossaim
Deus das folhas e das ervas medicamentosas. Seus sacerdotes conhecem as palavras que ativam o poder de cura das plantas.
Orixá
das ervas medicinais e das plantas em geral, presentes em todos os
rituais de iniciação no Candomblé. É representado por um pássaro
pousado num ramo e seu domínio é a mata virgem. Veste-se de verde e
rosa. Seu dia é Quinta-feira e sua saudação é "Ewé ô - Ewe assá !". Seus
filhos, são pessoas com forte tendência à religiosidade, tolerantes e
de bom coração. De personalidade instável, costumam controlar seus
sentimentos e emoções. Valorizam a liberdade e não se apegam aos bems
materiais.
OBALUAIÊ, ( ou OMOLU, em sua forma velha).
É
o orixá das epidemias e também da cura. Traz em seu corpo as marcas
das doenças que carrega, por isso precisa se esconder atrás de um chapéu
de palha em forma de manto.
OXUMARÉ
Tem
a forma de arco-íris e liga o céu e a terra. Controla a chuva, a
fertilidade do solo e a prosperidade propiciada pelas colheitas. É
masculino e feminino ao mesmo tempo.
Orixá
da sorte, fartura e fertilidade. Protetor das mulheres grávidas. Seu
domínio são os poços e fontes da mata. Veste-se de verde e amarelo ou
com as sete cores do arco-íris e é representado por uma serpente. Seu
dia é Quinta-feira e sua saudação é "Àrobô bô yi !". Seus filhos são
pessoas orgulhosas e exibicionistas. Periódicamente mudam tudo em sua
vida: casa, emprego, amigos, sempre buscando novidades. Costumam
desenvolver o dom da vidência e possuem intuição aguçada, que
normalmente lhes revelam os melhores caminhos.
XANGÔ
Senhor
dos raios e dos trovões. Durante sua vida na Terra foi rei de Oyó, uma
das principais cidades de língua iorubá. Por esse motivo, quando seus
filhos o incorporam usam uma coroa.
Orixá
da justiça, do trovão e da pedreira. Veste-se de vermelho e branco.
Usa uma coroa, e traz o Oxé (machado duplo) e o Xerê (instrumento
musical) Seu dia é Quarta-feira e sua saudação é "Kawó-Kabyesilé !".
Seus filhos são pessoas fisicamente fortes, atrevidos e prepotentes.
Com um senso de justiça muito próprio, não suportam desaforos. As vezes
agem como se fossem os donos da verdade. Porém, quando a situação
complica, sempre buscam um meio termo, para não sair perdendo.
OXUM
É
a senhora das águas doces, dos lagos e das cachoeiras. É tida como
bela, vaidosa, rica e sensual. É a orixá que regula o amor e o poder de
gestação das mulheres.
É
a rainha dos rios e das cachoeiras (todas as águas doces), do ouro e do
amor. Veste-se de amarelo, dourado, azul claro e rosa. Traz em suas
mãos o Abebê (espelho-leque) e uma espada se for guerreira. É a segunda
esposa de Xangô. Seu dia é Sábado e sua saudação é "Ora Ieiê Ô !". Seus
filhos são pessoas graciosas e elegantes, adoram jóias, perfumes e
roupas caras. Voluptuosas, sensuais, esbanjam charme e beleza.
Possuidoras de muita força de vontade e um grande desejo de ascensão
social.
Iansã
Dirige
ventos, raios, tempestades e a sensualidade feminina. Representada
sempre como uma guerreira, é senhora dos espíritos dos mortos, que
encaminha para o outro mundo.
LOGUN-EDÉ
Orixa encantado....
Filho de Oxum com Oxóssi. Seus domínios são os leitos de rios e
mares. Veste-se com uma pele de leopardo, leva em uma mão o espelho
de Oxum e na outra as armas de Oxóssi. Suas cores são amarelo e azul. É
representado por um pavão ou um papagaio. Seu dia é Quinta-feira e sua
saudação é "Olu A Ô Ioriki !". Seus filhos são pessoas bonitas,
atraentes e sedutoras. Carinhosos, amorosos e sensuais. Orgulhosos e
vaidosos. Inconstantes, indecisos, frios e calculistas. reservados e um
tanto calados. Ciumentos, solitários e discretos.
OBÁ
Orixa guerreira...
Uma
das esposas de Xangô, Orixá do equilíbrio e da justiça. Seu domínio
são as águas revoltas. Veste-se de laranja e amarelo, portando espada e
protegendo a orelha com um escudo. Seu dia é Quarta-feira e sua
saudação é "Obá xirê !". Os filhos de Obá são pessoas pouco atraentes,
desajeitadas e de temperamento forte. Agressivas e objetivas. Aparentam
ser mais velhas do que realmente são. Costumam ser bem sucedidas nos
negócios e gostam de acumular bens.
IEMANJÁ
Reconhecida
como mãe de todos os outros orixás, é a deusa das águas. Rege o
equilíbrio emocional e a loucura. Destaca-se pela feminilidade,
generosidade e maternidade.
Orixá
da harmonia em família, é considerada a Rainha dos mares e a mãe dos
Orixás. Veste-se de azul e branco ou verde claro, portando seu Abebê
(espelho-leque)decorado com uma sereia ou uma concha. Seu dia é Sábado e
sua saudação é "Odô iyá !" Seus filhos, são autoritários,
persistentes, preocupados, responsáveis e decididos. Amigos,
protetores, faladores e não suportam a solidão. As mulheres, se
comportam como super mães. Quando a segurança dos filhos e da família
está em jogo, são agressivos e até traiçoeiros.
NANÃ
Vó dos Orixas ...
É
o Orixá feminino mais velho do Panteão. É a mãe de Oxumarê e Obaluaiê.
Em sua mão traz seu cetro o Ibiri. Veste-se de lilás, branco e azul. É a
protetora dos doentes desenganados. Seu dia é Terça-feira e sua
saudação é "Salubá !" Seus filhos são conservadores e apegados às
convenções. Calmos, mas às vezes tornan-se agressivos e guerreiros. As
mães, são apegadas aos filhos e muito protetoras. Ciumentas e
possessivas, exigem atenção e respeito. Não costumam ser muito alegres e
não gostam de brincadeiras.
IBEJI
As doces crianças....
Orixás
Gêmeos protetores das crianças e da família. Vestem-se de azul, rosa e
verde. São representados por dois bonecos gêmeos ou duas cabacinhas.
Seu dia é domingo e sua saudação é "Omi Beijada!" Embora possa ocorrer,
são raros os filhos de Ibeji. Essa energia infantil, geralmente se
manifesta com o orixá do iniciado. Mesmo sendo adulto, quando em
"estado de erê", o iniciado torna-se brincalhão, irreverente, cheio de
energia e aparenta ser mais joven. Adoram festas, música e dança.
OXALÁ
Separou
o mundo material do espiritual. Muito respeitado, tanto pelos devotos
humanos quanto pelos demais orixás, ajudou Olodumaré a criar o homem e o
princípio da vida.
é
considerado o Pai de todos os orixás. É o mais velho e o primeiro a
ser criado. É responsável pela criação do mundo e dos seres humanos. É o
Orixá dos inhames novos e da agricultura, que traz as chuvas e que
fecunda os campos, Sua festa ligada ao início do ano agrícola costuma
ser em agosto e setembro, e inclui a renovação da água do templo e a
lavagem dos objetos de culto. Está associado à justiça e ao equilíbrio. É
cultuado nas seguintes formas:
Oxalufã = Oxalá Velho e Oxaguiã = Oxalá Moço.
OXALUFÃ é o Orixá da paz, veste-se de branco portando sempre seu apaxorô (cajado). É representado por uma pomba branca. Seu dia é Sexta-feira e sua saudação é "Eepaá babá !".
OXALUFÃ é o Orixá da paz, veste-se de branco portando sempre seu apaxorô (cajado). É representado por uma pomba branca. Seu dia é Sexta-feira e sua saudação é "Eepaá babá !".
OXAGUIÃ
é um Orixá valente e guerreiro, considerado filho de Oxalufã. Também
veste-se de branco, dança com muita energia carregando uma "mão de
pilão". Seu dia é Sexta-feira e sua saudação é "Exê êêê !
Os filhos de Oxaguiã (oxalá moço), são
pessoas joviais e viris. Ativos, guerreiros, alegres e generosos. Não
se deixam influenciar por opiniões alheias. São organizados e metódicos
em seus ofícios e projetos. Trabalhadores incanssáveis e por essa razão, suscetíveis à crises de estresse.
Os filhos de Oxalufã (oxalá velho), em geral são pessoas calmas e dignas de confiança. Dotados de grande sabedoria, estão sempre buscando os significados de tudo o que ocorre ao seu redor. Não cansam de estudar e buscar o conhecimento. Também são teimosos orgulhosos e inteligentes e com tendência à serem preguiçosos.
Comportamento humano como herança dos orixás
Segundo o candomblé, cada
pessoa pertence a um deus determinado, que é o senhor de sua cabeça e mente e
de quem herda características físicas e de personalidade. É prerrogativa religiosa do pai ou
mãe-de-santo descobrir esta origem mítica através do jogo de búzios. Esse
conhecimento é absolutamente imperativo no processo de iniciação de novos
devotos e mesmo para se fazerem previsões do futuro para os clientes e resolver
seus problemas. Embora na África haja registro de culto a cerca de 400 orixás,
apenas duas dezenas deles sobreviveram no Brasil. A cada um destes cabe o papel
de reger e controlar forças da natureza e aspectos do mundo, da sociedade e da
pessoa humana. Cada um tem suas próprias características, elementos naturais,
cores simbólicas, vestuário, músicas, alimentos, bebidas, além de se
caracterizar por ênfase em certos traços de personalidade, desejos, defeitos,
etc. (ver Anexo). Nenhum orixá é nem inteiramente bom, nem inteiramente mau.
Noções ocidentais de bem e mal estão ausentes da religião dos orixás no Brasil.
E os devotos acreditam que os homens e mulheres herdam muitos dos atributos de
personalidade de seus orixás, de modo que em muitas situações a conduta de
alguém pode ser espelhada em passagens míticas que relatam as aventuras dos
orixás. Isto evidentemente legitima, aos olhos da comunidade de culto, tanto as
realizações como as faltas de cada um.
Vejamos abreviadamente algumas
das características de personalidade mais usualmente atribuídas aos orixás por
seus seguidores:
Exu — Deus mensageiro, divindade trickster, o trapaceiro. Em
qualquer cerimônia é sempre o primeiro a ser homenageado, para se evitar que se
enraiveça e atrapalhe o ritual. Guardião
das encruzilhadas e das portas da rua. Sincretizado com o Diabo católico. Seus
símbolos são um porrete fálico e tridentes de ferro. Os seguidores acreditam
que as pessoas consagradas a Exu são inteligentes, sexy, rápidas, carnais,
licenciosas, quentes, eróticas e sujas. Filhos de Exu gostam de comer e beber
em demasia. Não se deve confiar nunca num filho ou numa filha de Exu. Eles são
os melhores, mas eles decidem quando o querem ser. Não são dados ao casamento,
gostam de andar sozinhos pelas ruas, bebendo e observando os outros para
apanhá-los desprevenidos. Deve-se pagar a Exu com dinheiro, comida, atenção
sempre que se precise de um favor dele. Como o pai, filhos de Exu nunca fazem
nada sem paga. A saudação a Exu é Laroyê!
Ogum — Deus da guerra, do ferro, da metalurgia e da tecnologia.
Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge. É o orixá que tem o poder de abrir
os caminhos, facilitando viagens e progressos na vida. Os estereótipos mostram
os filhos de Ogum como teimosos, apaixonados e com certa frieza racional. Eles
são muito trabalhadores, especialmente moldados para o trabalho manual e para
as atividades técnicas. Embora eles usualmente façam qualquer coisa por um
amigo, os filhos e filhas de Ogum não sabem amar sem machucar: despedaçam
corações. Acredita-se que sejam muito bem dotados sexualmente, tanto quanto os
filhos de Exu, irmão de Ogum. Embora eles possam ter muitos interesses, os
filhos de Ogum preferem as coisas práticas, detestando qualquer trabalho
intelectual. Eles dão bons guerreiros, policiais, soldados, mecânicos,
técnicos. Saudação: Ogunhê!
Oxóssi — Deus da caça.
Sincretizado com São Jorge e São Sebastião. Orixá da fartura. Seus filhos são
elegantes, graciosos, xeretas, curiosos e solitários. Embora dêem bons pais e
boas mães, têm sempre dificuldade com o ser amado. São amigáveis, pacientes e
muitas vezes ingênuos. Os filhos de Oxóssi têm aparência jovial e parece que
estão sempre à procura de alguma coisa. Não conseguem ser monogâmicos. Têm de
caçar noite e dia. Por isso são considerados irresponsáveis. De fato, eles se
sentem livres para quebrar qualquer compromisso que não lhes agrade mais.
Dificilmente eles se sentem obrigados a comparecer a um encontro marcado,
quando outra coisa mais interessante cruza o seu caminho. Okê arô!
Obaluaiê ou Omulu — Deus da
varíola, das pragas e doenças. É relacionado com todo o tipo de mal físico e
suas curas. Associado aos cemitérios, solos e subsolos. Sincretizado com São
Lázaro e São Roque. Seus filhos aparentam um aspecto deprimido. São negativos,
pessimistas, inspirando pena. Eles parecem pouco amigos, mas é porque são
tímidos e envergonhados. Seja amigo de um deles e você descobrirá que tudo o
que eles precisam para ser as melhores pessoas do mundo é de um pouco de
atenção e uma pitada de amor. Quando
envelhecem, alguns se tornam sábios,
outros parecem completos idiotas. É que apenas querem ficar sozinhos. Atotô!
Xangô — Deus do trovão e da justiça. Sincretizado com São Jerônimo.
Seus filhos se dão bem em atividades e assuntos que envolvem justiça, negócios
e burocracia. Sentem que nasceram para ser reis e rainhas, mas usualmente
acabam se comportando como plebeus. São teimosos, resolutos e glutões;
gananciosos por dinheiro, comida e poder. Uma pessoa de Xangô gosta de se
mostrar com muitos amantes, embora não sejam reconhecidos como pessoas capazes
de grandes proezas sexuais. Vivem para lutar e para envolver as pessoas que o
cercam na sua própria e interminável
guerra pessoal. Gostam de criar suas famílias, protegendo seus rebentos além do
usual. Por isso são muito bons amigos e excelentes pais. Kaô kabiesile!
Oxum — Deusa da água doce, do ouro, da fertilidade e do amor.
Sincretizada com Nossa Senhora das Candeias. Senhora da vaidade, ela foi a
esposa favorita de Xangô. Os filhos e filhas de Oxum são pessoas atrativas,
sedutoras, manhosas e insinuantes. Elas sabem como manobrar os seus amores; são
boas na feitiçaria e na previsão do futuro. Adoram adivinhar segredos e
mistérios. São orgulhosas da beleza que pensam ter por direito natural. Podem
ser muito vaidosas, atrevidas e arrogantes. Dizem que sabem tudo do amor, do
namoro e do casamento, mas têm muita dificuldade em criar seus filhos
adequadamente, muitas vezes até se esquecendo que eles existem. Não gostam da
pobreza e nem da solidão. Saudação: Ora yeyê ô!
Iansã ou Oiá — Deusa dos
raios, dos ventos e das tempestades. É a esposa de Xangô que o acompanha na
guerra. Orixá guerreira que leva a alma dos mortos ao outro mundo. Sincretizada
com Santa Bárbara. Seus filhos e filhas são mais dotados para a prática do sexo
do que para o cultivo do amor. Deusa do erotismo, ela é uma espécie de entidade
feminista. As pessoas de Iansã são brilhantes, conversadoras, espalhafatosas, bocudas e corajosas. Detestam fazer pequenos serviços em
favor dos outros, pois sentem que isso contraria sua majestade. Elas podem dar
a vida pela pessoa amada, mas jamais perdoam uma traição. Eparrei!
Iemanjá — Deusa dos grandes rios, dos mares, dos oceanos. Cultuada
no Brasil como mãe de muitos orixás. Sincretizada com Nossa Senhora da
Conceição. Freqüentemente representada por uma sereia, sua estátua pode ser
vista em quase todas as cidades ao longo da costa brasileira. Ela é a grande
mãe, dos orixás e do Brasil, a quem protege como padroeira, sendo igualmente
Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Os filhos e filhas de Iemanjá tornam-se
bons pais e boas mães. Protegem seus filhos como leões. Seu maior defeito é
falar demais; são incapazes de guardar um segredo. Gostam muito do trabalho e
de derrotar a pobreza. Fisicamente são pessoas pouco atraentes, mulheres de
bustos exagerados, e sua presença entre outras pessoas é sempre pálida.
Saudação: Odoyá!
Oxalá — Deus da criação. Sincretizado com Jesus Cristo. Seus
seguidores vestem-se de branco às sextas-feiras. É sempre o último a ser
louvado durante as cerimônias religiosos afro-brasileiras; é reverenciado pelos
demais orixás. Como criador, ele modelou os primeiros seres humanos. Quando se
revela no transe, apresenta-se de duas formas: o velho Oxalufã, cansado e
encurvado, movendo-se vagarosamente, quase incapaz de dançar; o jovem
Oxaguiã, dançando rápido como o
guerreiro. Por ter inventado o pilão para preparar o inhame como seu prato
favorito, Oxaguiã é considerado o criador da cultura material. Ao invés de
sacrifício de sangue de animais quentes, Oxalá prefere o sangue frio dos
caracóis. Os filhos de Oxalá gostam do poder, do trabalho criativo, apreciam
ser bem tratados e mostram-se mandões e determinados na relação com os outros.
São melhores no amor do que no sexo, gostam muito de aprender e de ensinar, mas
nunca ensinam a lição completamente. São calados e chatos. Gostam de desafios,
são muito bons amigos e muito bons adversários aos que se atrevem a se opor a
eles. Povo de Oxalá nunca desiste. Epa
Babá!
O canal History Channel em seu site disponibiliza mais material sobre os deuses de diversos panteões. Acesse o link abaixo, para conhecer mais um pouco sobre os deuses africanos:
Fonte de pesquisa e texto:
( PRANDI, Reinado. Herdeiras do Axé. São Paulo, Hucitec, 1997, páginas 1-50)
( PRANDI, Reinado. Herdeiras do Axé. São Paulo, Hucitec, 1997, páginas 1-50)
Um comentário:
trabalho de escola terminado e primeiro comentario é meu XD
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